Aos trancos e barrancos (2)
Escrevi sobre o dano que o
PT, mais especificamente o desastrado governo Dilma, causou à esquerda. A
incompetência, a rapina dos cofres públicos, a destruição da Petrobrás, o roubo
nos Fundos de Pensão, a arrogância e a autossuficiente da Dilma e o
mau-caratismo e a vulgaridade do Lula, criaram, na opinião pública, a ideia
(pior: a certeza) de que a esquerda (ideologia e prática política) é isso, ou
seja, o que o PT produziu, fez e obrou nos últimos treze anos. Em linguagem
chula: sob o governo PT, a esquerda transformou-se numa porcaria, segundo a
percepção e o sentimento da população.
Quero acrescentar que, além
da desmoralização da esquerda, outro dano causado pelo PT – e não me venham
falar em golpe - foi o de nos dar, de bandeja, o governo Temer. O Velhote não
vai especular sobre o governo Temer, muito menos comentar os nomes que
diariamente surgem como possíveis ministros disso ou daquilo. O Velhote, que
não alimenta esperanças, fará isso no momento certo.
A internet é um poderoso
conduto de mentiras, fofocas, boatos e tolices. A última foi a de que um bispo
de Igreja Universal seria ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. Bobagem
pensar que Temer seria tão tolo a esse ponto, mas o Velhote prefere aguardar,
pois se dependesse dele, Velhote, o MCTI seria extinto, tornando-se uma secretaria
subordinada ao Planejamento – como, aliás, já o foi no passado. O MCTI (na
época, apenas MCT) surgiu da necessidade que Tancredo teve de partilhar a
máquina estatal (criando, inclusive, novos ministérios – e este foi o caso do
MCT). À distribuição de cargos e espaços na máquina, fenômeno antigo no Brasil,
o sociólogo Luciano Martins, em ensaio que merece ser relido, chamou de
“feudalização do Estado”.
Bem verdade que Temer é um
político conservador, mas o governo Dilma, como o governo Lula, fez um governo
conservador, tendo, inclusive, alterado leis trabalhistas e leis de
aposentadoria, em prejuízo dos trabalhadores e aposentados. Lula, por exemplo,
criou um desconto nas aposentadorias, inclusive com efeito retroativo, ou seja,
aos que já estavam aposentados. Os governos Lula e Dilma somados, conforme
dados do próprio governo, distribuíram menos títulos de terra que o governo
FHC. O MST, claro, sabe disso, mas a reforma agrária é um discurso de múltiplos
usos, inclusive o de invadir campos de pesquisa da Embrapa e destruir
investigações em curso. O próprio Lula afirmou que “nunca os empresários
ganharam tanto como no meu governo”.
Não estou defendendo FHC e
muito menos fazendo uma previsão otimista do governo Temer. Não peco pelo
otimismo, inclusive porque os danos causados pelo espantoso governo Dilma não
têm cura a curto ou médio prazos. A sociedade brasileira vai gramar – e levar
sustos seguidos quando falácias petistas se tornarem evidentes. Em 21 abril
último, Clóvis Rossi mostrou, com base em estudo elaborado por técnicos do IPEA
e da UnB, que não houve em absoluto queda da desigualdade nos últimos vinte
anos. O estudo é tão demolidor que o IPEA proibiu a sua difusão. Outros estudos,
de outros analistas, estão no forno – e serão divulgados proximamente.
Temer será pior que Dilma?
Não sei, mas não creio que ninguém possa ser um governante pior que Dilma: ele,
no máximo, vai ser tão ruim quanto ela. Ele vai penalizar os trabalhadores? Mas
o que tem feito Dilma? Ou inflação, carestia, desemprego, redução de salários
não são penalizações? Corre, e parece certo, que Henrique Meirelles será o
próximo ministro da Fazenda. Mas Meirelles não foi o ministro dos sonhos do
Lula, que o indicou para Dilma, que torceu o nariz?
Em 2018, meus amigos, vamos
ter eleição. Pode ser que o brasileiro, até lá, tenha aprendido a não acreditar
nos aventureiros de praxe. A antecipação das eleições seria inconveniente, pois
os ânimos estão quentes e a irracionalidade pode predominar e turvar ainda mais
o cenário político brasileiro.
***
O presente artigo estava
escrito quando o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP),
articulado com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e com o Advogado
Geral da União, José Eduardo Cardoso, tentou melar o processo de impeachment da
presidente Dilma, através de um ato insano, pueril e inaceitável.
O golpe parecia ser certeiro
e inteligente. Maranhão, orientado por Dino e Cardoso, baixou um ato
(monocrático), anulando a sessão da Câmara que aprovou o relatório da Comissão
criada para analisar o impeachment.
O golpe foi facilmente
abortado, embora tenha causado muito ruído desnecessário, pois a Dilma já está
praticamente afastada.
Como sempre digo, a Internet
é um instrumento diabólico, tanto divulga conhecimento quanto fofocas, boatos e
mentiras deslavadas. Ontem mesmo (9 de maio) soube-se que o filho de Waldir
Maranhão acumula um cargo no Tribunal de Contas do Estado do Maranhão, onde
recebe dez mil reais, e um emprego, como médico anestesista num hospital de São
Paulo, a 2.400 quilômetros de distância em linha reta.
A tentativa de golpe pegou
mal na imprensa internacional, na bolsa e na paciência dos brasileiros.
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