terça-feira, 10 de maio de 2016

Impeachment e golpe


Aos trancos e barrancos (2)

 

Escrevi sobre o dano que o PT, mais especificamente o desastrado governo Dilma, causou à esquerda. A incompetência, a rapina dos cofres públicos, a destruição da Petrobrás, o roubo nos Fundos de Pensão, a arrogância e a autossuficiente da Dilma e o mau-caratismo e a vulgaridade do Lula, criaram, na opinião pública, a ideia (pior: a certeza) de que a esquerda (ideologia e prática política) é isso, ou seja, o que o PT produziu, fez e obrou nos últimos treze anos. Em linguagem chula: sob o governo PT, a esquerda transformou-se numa porcaria, segundo a percepção e o sentimento da população.

Quero acrescentar que, além da desmoralização da esquerda, outro dano causado pelo PT – e não me venham falar em golpe - foi o de nos dar, de bandeja, o governo Temer. O Velhote não vai especular sobre o governo Temer, muito menos comentar os nomes que diariamente surgem como possíveis ministros disso ou daquilo. O Velhote, que não alimenta esperanças, fará isso no momento certo.

A internet é um poderoso conduto de mentiras, fofocas, boatos e tolices. A última foi a de que um bispo de Igreja Universal seria ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. Bobagem pensar que Temer seria tão tolo a esse ponto, mas o Velhote prefere aguardar, pois se dependesse dele, Velhote, o MCTI seria extinto, tornando-se uma secretaria subordinada ao Planejamento – como, aliás, já o foi no passado. O MCTI (na época, apenas MCT) surgiu da necessidade que Tancredo teve de partilhar a máquina estatal (criando, inclusive, novos ministérios – e este foi o caso do MCT). À distribuição de cargos e espaços na máquina, fenômeno antigo no Brasil, o sociólogo Luciano Martins, em ensaio que merece ser relido, chamou de “feudalização do Estado”.

Bem verdade que Temer é um político conservador, mas o governo Dilma, como o governo Lula, fez um governo conservador, tendo, inclusive, alterado leis trabalhistas e leis de aposentadoria, em prejuízo dos trabalhadores e aposentados. Lula, por exemplo, criou um desconto nas aposentadorias, inclusive com efeito retroativo, ou seja, aos que já estavam aposentados. Os governos Lula e Dilma somados, conforme dados do próprio governo, distribuíram menos títulos de terra que o governo FHC. O MST, claro, sabe disso, mas a reforma agrária é um discurso de múltiplos usos, inclusive o de invadir campos de pesquisa da Embrapa e destruir investigações em curso. O próprio Lula afirmou que “nunca os empresários ganharam tanto como no meu governo”.

Não estou defendendo FHC e muito menos fazendo uma previsão otimista do governo Temer. Não peco pelo otimismo, inclusive porque os danos causados pelo espantoso governo Dilma não têm cura a curto ou médio prazos. A sociedade brasileira vai gramar – e levar sustos seguidos quando falácias petistas se tornarem evidentes. Em 21 abril último, Clóvis Rossi mostrou, com base em estudo elaborado por técnicos do IPEA e da UnB, que não houve em absoluto queda da desigualdade nos últimos vinte anos. O estudo é tão demolidor que o IPEA proibiu a sua difusão. Outros estudos, de outros analistas, estão no forno – e serão divulgados proximamente.

Temer será pior que Dilma? Não sei, mas não creio que ninguém possa ser um governante pior que Dilma: ele, no máximo, vai ser tão ruim quanto ela. Ele vai penalizar os trabalhadores? Mas o que tem feito Dilma? Ou inflação, carestia, desemprego, redução de salários não são penalizações? Corre, e parece certo, que Henrique Meirelles será o próximo ministro da Fazenda. Mas Meirelles não foi o ministro dos sonhos do Lula, que o indicou para Dilma, que torceu o nariz?

Em 2018, meus amigos, vamos ter eleição. Pode ser que o brasileiro, até lá, tenha aprendido a não acreditar nos aventureiros de praxe. A antecipação das eleições seria inconveniente, pois os ânimos estão quentes e a irracionalidade pode predominar e turvar ainda mais o cenário político brasileiro.

***

O presente artigo estava escrito quando o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP), articulado com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e com o Advogado Geral da União, José Eduardo Cardoso, tentou melar o processo de impeachment da presidente Dilma, através de um ato insano, pueril e inaceitável.

O golpe parecia ser certeiro e inteligente. Maranhão, orientado por Dino e Cardoso, baixou um ato (monocrático), anulando a sessão da Câmara que aprovou o relatório da Comissão criada para analisar o impeachment.

O golpe foi facilmente abortado, embora tenha causado muito ruído desnecessário, pois a Dilma já está praticamente afastada.

Como sempre digo, a Internet é um instrumento diabólico, tanto divulga conhecimento quanto fofocas, boatos e mentiras deslavadas. Ontem mesmo (9 de maio) soube-se que o filho de Waldir Maranhão acumula um cargo no Tribunal de Contas do Estado do Maranhão, onde recebe dez mil reais, e um emprego, como médico anestesista num hospital de São Paulo, a 2.400 quilômetros de distância em linha reta.

A tentativa de golpe pegou mal na imprensa internacional, na bolsa e na paciência dos brasileiros.  

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