Certa vez,
Karl Marx escreveu uma frase que gosto muito: “Se as aparências explicassem a
essência dos fenômenos, a ciência seria desnecessária”.
Em 1982, eu
estava em casa (nessa época eu morava num apartamento de quarto e sala entulhado
de livros, papéis, discos, revistas antigas – além, é claro, dos meus pecados)
quando fui visitado por uma comissão do PDT. Eles queriam que eu assinasse um
manifesto de apoio aos militares argentinos que tinham invadido as Malvinas. O
texto do manifesto era um primor de equívocos: falava contra o colonialismo
inglês, transformava os milicos argentinos em patriotas, proclamava os povos
sul-americanos à rebelião contra o imperialismo.
Eu me recusei
a assinar o manifesto. Expliquei: em minha opinião, os milicos invadiram as Malvinas
para incendiar o patriotismo interno e garantir a sua permanência no poder. Na
época, citei o meu grande mestre Manoel Maurício, que ensinou história, literatura,
música a várias gerações – a minha, inclusive: “Quando as contradições se acirram,
os governantes tendem a exportá-las”. Era isto precisamente o que os milicos
argentinos desejavam: exportar as contradições que comiam a sociedade argentina.
Semana
passada, ocorreu na Turquia uma tentativa de golpe militar. Amigos meus, alguns
bastante muito afobados, escreveram contra o golpe, Dilma (sempre confusa e
equivocada) aproveitou para comparar a tentativa de golpe militar na Turquia
com o processo de impeachment que ela está respondendo. Não se poderia esperar
outra coisa de Dilma.
O golpe não
durou 24 horas. O presidente Recep Tayyip Erdogan aproveitou o ensejo e partiu
para a construção da sua ditadura. Milhares de pessoas foram presas, certamente
torturados, o estado de emergência garante poderes absurdos a Erdogan. Um
horror. Hoje, mesmo, 42 jornalistas foram presos. Jornais, revistas e emissoras
de TV que faziam oposição, foram fechados. Tenho certeza de mais cedo ou mais
tarde, a Turquia mergulhará numa guerra civil, tão sanguinária quanto a da
Síria e Iraque.
Para terminar:
antes que um cérebro mirim me acuse de defender o golpe militar na Turquia,
golpe que não chegou a se consolidar, eu aviso: fui contra, como acho o regime
de Erdogan um horror absoluto.
Caro Ronaldo, perfeita a sua análise. Na Turquia, hoje, não há bandidos e nem heróis.
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