segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cuidado com as aparências, amigos!


 
Certa vez, Karl Marx escreveu uma frase que gosto muito: “Se as aparências explicassem a essência dos fenômenos, a ciência seria desnecessária”.

Em 1982, eu estava em casa (nessa época eu morava num apartamento de quarto e sala entulhado de livros, papéis, discos, revistas antigas – além, é claro, dos meus pecados) quando fui visitado por uma comissão do PDT. Eles queriam que eu assinasse um manifesto de apoio aos militares argentinos que tinham invadido as Malvinas. O texto do manifesto era um primor de equívocos: falava contra o colonialismo inglês, transformava os milicos argentinos em patriotas, proclamava os povos sul-americanos à rebelião contra o imperialismo.

Eu me recusei a assinar o manifesto. Expliquei: em minha opinião, os milicos invadiram as Malvinas para incendiar o patriotismo interno e garantir a sua permanência no poder. Na época, citei o meu grande mestre Manoel Maurício, que ensinou história, literatura, música a várias gerações – a minha, inclusive: “Quando as contradições se acirram, os governantes tendem a exportá-las”. Era isto precisamente o que os milicos argentinos desejavam: exportar as contradições que comiam a sociedade argentina.

Semana passada, ocorreu na Turquia uma tentativa de golpe militar. Amigos meus, alguns bastante muito afobados, escreveram contra o golpe, Dilma (sempre confusa e equivocada) aproveitou para comparar a tentativa de golpe militar na Turquia com o processo de impeachment que ela está respondendo. Não se poderia esperar outra coisa de Dilma.

O golpe não durou 24 horas. O presidente Recep Tayyip Erdogan aproveitou o ensejo e partiu para a construção da sua ditadura. Milhares de pessoas foram presas, certamente torturados, o estado de emergência garante poderes absurdos a Erdogan. Um horror. Hoje, mesmo, 42 jornalistas foram presos. Jornais, revistas e emissoras de TV que faziam oposição, foram fechados. Tenho certeza de mais cedo ou mais tarde, a Turquia mergulhará numa guerra civil, tão sanguinária quanto a da Síria e Iraque.

Para terminar: antes que um cérebro mirim me acuse de defender o golpe militar na Turquia, golpe que não chegou a se consolidar, eu aviso: fui contra, como acho o regime de Erdogan um horror absoluto.

Um comentário:

  1. Caro Ronaldo, perfeita a sua análise. Na Turquia, hoje, não há bandidos e nem heróis.

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