terça-feira, 2 de agosto de 2016

Ódio ideológico contra um homem honrado


Vejo nas redes sociais uma declaração do escritor Fernando Morais: “Anos atrás recebi do então governador de Brasília Cristovam Buarque o prêmio Manoel Bomfim, atribuído ao meu livro ‘Chatô, o Rei do Brasil’. Já pedi à Marília para localizar a placa de prata. Vou devolver. De golpista não quero nada. Nem prêmio”.

Em função da natureza das observações do escritor Fernando Morais, mesmo considerando a resposta a altura dada pelo senador Cristovam, resolvi escrever o texto abaixo:

 

É triste constatar como a visão ideologicamente viciada e torpe da realidade política conduz determinadas pessoas, mesmo as mais respeitáveis, a falar e cometer desatinos. O escritor Fernando Morais, numa demonstração de falta de educação, má-fé política e infantilidade alardeou que irá devolver ao ex-governador Cristovam Buarque o prêmio “Manoel Bomfim” que recebeu anos atrás pela obra “Chatô – O Rei do Brasil”.

Fernando Morais incorre em erro básico ao fazer tal declaração. O prêmio não lhe foi concedido pelo ex-governador Cristovam Buarque, mas pelo Governo do Distrito Federal, a partir da indicação de um júri formado por vinte intelectuais brasileiros, entre os quais Nelson Werneck Sodré, Hélgio Trindade e Joel Rufino dos Santos. Além de descortês, Fernando Morais evidenciou não distinguir a diferença entre partido, governo e estado. É compreensível, pois todos que confundem política e ódio, inteligência e bloqueio ideológico, razão e irracionalismo, tende a cometer erros dessa ordem e defender, em nome de valores universais, como a democracia, o aparelhamento do Estado, a corrupção e a inépcia administrativa, traços dos governos petistas que o escritor apoiou e quer de volta.

Não vou defender o ex-governador Cristovam Buarque, a quem tive a honra de, como secretário de Ciência e Tecnologia, propor a criação do prêmio “Manoel Bomfim”, que outorgou a figuras como Darcy Ribeiro, Jorge Caldeira e Fernando Novais, a honraria, que, hoje, Fernando Morais despreza e ameaça devolver.

O orgulho que sinto de ter Cristovam Buarque como um amigo talvez seja o mesmo que Fernando Morais tenha pelo falecido governador paulista Luiz Antonio Fleury, que ordenou o massacre do Carandiru, justo na época que o autor de “Olga” era seu secretário da Educação. Outros tempos, sem dúvida, pois Fernando Morais tão indignado e vexado com o impeachment de Dilma, a ponto de ofender um homem decente e correto como Cristovam Buarque, não demonstrou o mesmo durante o episódio do Carandiru, pois permaneceu no cargo por mais de um ano, como se a matança 111 detentos fosse algo tolerável e trivial.

Tudo bem. Caso Fernando Morais queira, de fato, dar dimensão ao seu gesto, que devolva ao Governo do DF (não ao ex-governador Cristovam Buarque) não apenas a placa de prata como os dez mil reais que recebeu do prêmio “Manoel Bomfim”, na época equivalente a dez mil dólares.

Gesto pomposo pela metade sugere apenas inconsequência ou picaretagem.

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