Vejo nas
redes sociais uma declaração do escritor Fernando Morais: “Anos atrás recebi do
então governador de Brasília Cristovam Buarque o prêmio Manoel Bomfim, atribuído
ao meu livro ‘Chatô, o Rei do Brasil’. Já pedi à Marília para localizar a placa
de prata. Vou devolver. De golpista não quero nada. Nem prêmio”.
Em função da
natureza das observações do escritor Fernando Morais, mesmo considerando a
resposta a altura dada pelo senador Cristovam, resolvi escrever o texto abaixo:
É triste
constatar como a visão ideologicamente viciada e torpe da realidade política
conduz determinadas pessoas, mesmo as mais respeitáveis, a falar e cometer
desatinos. O escritor Fernando Morais, numa demonstração de falta de educação,
má-fé política e infantilidade alardeou que irá devolver ao ex-governador
Cristovam Buarque o prêmio “Manoel Bomfim” que recebeu anos atrás pela obra
“Chatô – O Rei do Brasil”.
Fernando
Morais incorre em erro básico ao fazer tal declaração. O prêmio não lhe foi concedido
pelo ex-governador Cristovam Buarque, mas pelo Governo do Distrito Federal, a
partir da indicação de um júri formado por vinte intelectuais brasileiros,
entre os quais Nelson Werneck Sodré, Hélgio Trindade e Joel Rufino dos Santos.
Além de descortês, Fernando Morais evidenciou não distinguir a diferença entre
partido, governo e estado. É compreensível, pois todos que confundem política e
ódio, inteligência e bloqueio ideológico, razão e irracionalismo, tende a
cometer erros dessa ordem e defender, em nome de valores universais, como a
democracia, o aparelhamento do Estado, a corrupção e a inépcia administrativa,
traços dos governos petistas que o escritor apoiou e quer de volta.
Não vou
defender o ex-governador Cristovam Buarque, a quem tive a honra de, como secretário
de Ciência e Tecnologia, propor a criação do prêmio “Manoel Bomfim”, que
outorgou a figuras como Darcy Ribeiro, Jorge Caldeira e Fernando Novais, a
honraria, que, hoje, Fernando Morais despreza e ameaça devolver.
O orgulho que
sinto de ter Cristovam Buarque como um amigo talvez seja o mesmo que Fernando
Morais tenha pelo falecido governador paulista Luiz Antonio Fleury, que ordenou
o massacre do Carandiru, justo na época que o autor de “Olga” era seu
secretário da Educação. Outros tempos, sem dúvida, pois Fernando Morais tão
indignado e vexado com o impeachment de Dilma, a ponto de ofender um homem
decente e correto como Cristovam Buarque, não demonstrou o mesmo durante o
episódio do Carandiru, pois permaneceu no cargo por mais de um ano, como se a
matança 111 detentos fosse algo tolerável e trivial.
Tudo bem.
Caso Fernando Morais queira, de fato, dar dimensão ao seu gesto, que devolva ao
Governo do DF (não ao ex-governador Cristovam Buarque) não apenas a placa de
prata como os dez mil reais que recebeu do prêmio “Manoel Bomfim”, na época
equivalente a dez mil dólares.
Gesto pomposo
pela metade sugere apenas inconsequência ou picaretagem.
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