Em 1964,
Jango Goulart propôs um programa generoso e essencial: as reformas de base, que
incluíam a agrária, a urbana, a política, a bancária, a da educação, entre
outras. Na mensagem que enviou ao Congresso nos primeiros dias de março de
1964, a fundamentação de cada reforma era explicada – com um detalhe: elas eram
justificadas com os olhos voltados para o futuro. Getúlio Vargas e Jango foram
os grandes presidentes brasileiros.
Na época, por
exemplo, mais da metade da população brasileira, vivia no campo, a maior parte
dela nas mais sórdidas condições de trabalho. A ideia da reforma agrária era
não só melhorar a vida de milhões de pessoas, como criar um mercado interno e
fixar o trabalhador rural no campo. Com o golpe militar, tais propostas viraram
fumaça: não se melhorou a condição de vida da população, não se criou um
pujante mercado interno e, sobretudo, não se fixou os trabalhadores, que migraram
para as cidades, multiplicando o número de favelas. Hoje, com 200 milhões de habitantes,
apenas 13% da população vive e trabalha no campo. Não se fez a reforma agrária,
mas, em contrapartida, potencializaram-se os problemas urbanos, que a meu ver
se tornaram insolúveis.
A necessidade
de reformas é tema recorrente no discurso dos políticos, mas como antes nenhuma
delas caminha. Os interesses contrários às mudanças são fortes, embora ninguém
no Brasil se declare explicitamente contra qualquer tipo de reforma. Todos os
políticos são a favor das reformas, embora façam tudo para bloqueá-las.
O pouco que
vi provou, mais uma vez, uma coisa: todos os candidatos adoram atacar,
valorizar o seu próprio discurso, apresentar-se como defensor do povo. Nenhum
deles, contudo, diz como irá fazer, onde encontrará recursos para levar adiante
o que diz. Outro dia, vi um candidato a prefeito do Rio de Janeiro falar sobre
a mobilidade urbana: enfiou o cacete na situação existente, falou das horas que
os trabalhadores perdem dentro de ônibus superlotados, sujos, velhos. Comovente.
Ao cabo, disse apenas que iria enfrentar e resolver de vez o problema. Só. Não
disse como. E não disse por que não sabe.
Os candidatos
a vereador, então, são de doer. A maioria - tenho certeza - não seria aprovada
no ENEM. Seriam incapazes de escrever um texto de trinta linhas sobre a cidade
onde concorrem. É triste, parece ser piada, mas é real.
O discurso ideológico
de alguns candidatos, repletos de clichês, jargões, palavras de ordem, é
constante. No fundo, são chavões vazios, que refletem à perfeição o vazio e a
escassez de pensamento desses candidatos. Ruins da cabeça eles são, mas são
espertos, pois o uso dos chavões permite que cada ouvinte entenda o que quiser.
É um discurso oportunista, mas útil, pois, entre outras coisas, substitui
termos como “democracia”, que é uma palavra que carrega em si um significado
forte e definitivo por bobagens e máscaras como “estado democrático de direito”.
*****
Ontem, ganhei
de uma querida amiga o livro “A espiã”, do Paulo Coelho, que conta a história
da Mata Hari, a mulher mais desejada de sua época. Folheei – e achei interessante.
Vou ler no fim de semana. Um sujeito que já vendeu mais de 210 milhões de
livros em mais de 170 países deve ser lido. Uma coisa: não me venham com
patrulhamentos.
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