sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Brasília não terá eleições. Felizmente.

Aqui na capital, eleições só realizam a cada quatro anos. Mas tenho lido e visto os acontecimentos eleitorais no país, especialmente nas grandes capitais. Afora os atentados, mortes, tiros e outros tantos crimes, como caixa dois, bandalhas variadas nos programas sociais, a baixaria – muitas vezes acobertadas por ideologias confusas e linhas políticas as mais diversas – parece estar sendo a tônica. Amigos do facebook postaram discursos de alguns políticos, de modo que é possível prever o Brasil que vai irromper das próximas eleições: algo entre a porcaria e a desgraça.

Em 1964, Jango Goulart propôs um programa generoso e essencial: as reformas de base, que incluíam a agrária, a urbana, a política, a bancária, a da educação, entre outras. Na mensagem que enviou ao Congresso nos primeiros dias de março de 1964, a fundamentação de cada reforma era explicada – com um detalhe: elas eram justificadas com os olhos voltados para o futuro. Getúlio Vargas e Jango foram os grandes presidentes brasileiros.

Na época, por exemplo, mais da metade da população brasileira, vivia no campo, a maior parte dela nas mais sórdidas condições de trabalho. A ideia da reforma agrária era não só melhorar a vida de milhões de pessoas, como criar um mercado interno e fixar o trabalhador rural no campo. Com o golpe militar, tais propostas viraram fumaça: não se melhorou a condição de vida da população, não se criou um pujante mercado interno e, sobretudo, não se fixou os trabalhadores, que migraram para as cidades, multiplicando o número de favelas. Hoje, com 200 milhões de habitantes, apenas 13% da população vive e trabalha no campo. Não se fez a reforma agrária, mas, em contrapartida, potencializaram-se os problemas urbanos, que a meu ver se tornaram insolúveis.

A necessidade de reformas é tema recorrente no discurso dos políticos, mas como antes nenhuma delas caminha. Os interesses contrários às mudanças são fortes, embora ninguém no Brasil se declare explicitamente contra qualquer tipo de reforma. Todos os políticos são a favor das reformas, embora façam tudo para bloqueá-las.

O pouco que vi provou, mais uma vez, uma coisa: todos os candidatos adoram atacar, valorizar o seu próprio discurso, apresentar-se como defensor do povo. Nenhum deles, contudo, diz como irá fazer, onde encontrará recursos para levar adiante o que diz. Outro dia, vi um candidato a prefeito do Rio de Janeiro falar sobre a mobilidade urbana: enfiou o cacete na situação existente, falou das horas que os trabalhadores perdem dentro de ônibus superlotados, sujos, velhos. Comovente. Ao cabo, disse apenas que iria enfrentar e resolver de vez o problema. Só. Não disse como. E não disse por que não sabe.

Os candidatos a vereador, então, são de doer. A maioria - tenho certeza - não seria aprovada no ENEM. Seriam incapazes de escrever um texto de trinta linhas sobre a cidade onde concorrem. É triste, parece ser piada, mas é real.

O discurso ideológico de alguns candidatos, repletos de clichês, jargões, palavras de ordem, é constante. No fundo, são chavões vazios, que refletem à perfeição o vazio e a escassez de pensamento desses candidatos. Ruins da cabeça eles são, mas são espertos, pois o uso dos chavões permite que cada ouvinte entenda o que quiser. É um discurso oportunista, mas útil, pois, entre outras coisas, substitui termos como “democracia”, que é uma palavra que carrega em si um significado forte e definitivo por bobagens e máscaras como “estado democrático de direito”.

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Ontem, ganhei de uma querida amiga o livro “A espiã”, do Paulo Coelho, que conta a história da Mata Hari, a mulher mais desejada de sua época. Folheei – e achei interessante. Vou ler no fim de semana. Um sujeito que já vendeu mais de 210 milhões de livros em mais de 170 países deve ser lido. Uma coisa: não me venham com patrulhamentos.

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