O último IDEB
mostrou a triste situação do nosso ensino médio. Há oito milhões de meninos
matriculados no ensino médio – e estes obtiveram, em conjunto, nota média de
3,7, quando havia a perspectiva de que ela ficasse entre 4,5 e 5,0, o que, de
qualquer modo, seria ainda uma média chinfrim. Não esquecer que há outros três
milhões de meninos, com idade de cursar o ensino médio, que estão fora das
escolas. É triste, mas aqueles meninos e professores que caminhavam pela Av.
Brigadeiro Luiz Antônio estavam, no fundo, defendendo a vergonhosa situação do
nosso ensino médio.
Não tenho ilusões
sobre o Brasil, inclusive porque estou convicto de que gente como os meninos e
professores da Av. Brigadeiro Luiz Antonio desejam que o país permaneça atolado
no atraso. Os meninos e os professores sabem que a reforma do ensino média iria
exigir muito deles - estudar (os meninos) e se reciclarem (os professores).
Eles não querem isso: querem protestar, mas protestar sem direção alguma, sem
objetivo nenhum, mas apoiado numa ideologia que desconhecem e em partidos e
entidades que se especializaram na mentira e no roubo do dinheiro público.
O Brasil
jamais sairá do atoleiro porque lhe faltam forças vitais, compromissos com o
bem comum e com o futuro e, principalmente, vontade política e projeto
nacional. As chamadas esquerdas – velhas, ultrapassadas, viciadas – recusam-se
a pensar o Brasil e o mundo com novos referenciais. As esquerdas limitam-se a
repetir clichês dos anos 1940 e 1950 – e a passeata da Av. Luiz Antônio é o
exemplo mais recente disso.
Repito: não
tenho ilusões sobre o Brasil. Estamos cerca de quarenta anos atrás da Coreia do
Sul em matéria de educação. É um hiato que não irá ser superado mediante
palavras de ordem, clichês e jargões, sejam eles justos ou não. Temos que ter
em mente o seguinte: a cada ano o hiato que nos separa da Coreia do Sul aumenta
– o que dá a dimensão exata da urgência que precisamos encarar. Os meninos e
professores da Av. Brigadeiro Luiz Antonio melhor fariam se construíssem ideias,
propostas e participassem seriamente das discussões a respeito. Mas preferem
manter-se na inconsequência, no atraso, no breu ideológico.
Falo e
escrevo essas palavras raspando com as unhas o que me restou de crença no
Brasil. Fiz muita política na minha vida (não vou detalhá-la), fiz duas
graduações (sociologia e geografia), mestrado e doutorado. Dei aulas, escrevi
doze livros, capítulos de livro, prefácios e ensaios. Política e estudo,
leitura e conhecimento, em minha opinião, não se excluem: se complementam. Outro
dia, vi um professor do curso de engenharia afirmar que o primeiro ano do curso
é gasto ensinando ao aluno regra de três, que o jovem não aprendeu no curso
médio. Absurdo? Não, é a realidade brasileira.
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