quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Denúncia


Bem, parece que a coroa do Lula transformou-se em colarinho de palhaço.

Assisti parte da apresentação dos procuradores, mas o que vi deu para o gasto. Lula foi chamado de “comandante de uma quadrilha de criminosos” – ou, se não foi exatamente isto, a coisa beirou algo semelhante.

Vi petistas afirmarem que Temer dera o “golpe” com o objetivo impedir que Dilma levasse adiante o seu maravilhoso governo e com a sinistra intenção de melar o processo da Lava-Jato. O Brasil constatou, hoje, que ninguém será capaz de tumultuar o andamento do processo – e que o PT mergulhou de cabeça na corrupção. E – parece – vai pagar caro por isso. Transformar a denúncia contra Lula num fato político é inócuo, pois as evidências e provas contra ele são taxativas. Mas parece que o PT não vislumbra outra saída para a esparrela em que está enfiado.

O que me parece é que, aos trancos e barrancos, as mazelas do país estão sendo expostas. A população está tomando conhecimento das nossas misérias – e talvez estejam compreendendo que há saídas possíveis, mas estas não são fáceis. Ninguém, nos dias atuais, é capaz de defender o modelo político no qual estamos atolados. Todos querem reformas - profundas ou superficiais -, mas todos, ou a maioria, sabem que elas são essenciais. Minha principal proposta eu já apresentei aqui. Transcrevo:

“Sou favorável a uma nova constituinte, digamos, em 2018, em eleições separadas: os constituintes seriam eleitos apenas com a missão de escrever uma nova constituição, com mandato de até dois anos. A nova constituição seria votada e aprovada pelo Congresso, que teria seis meses para tanto. Defendo o parlamentarismo, o fim das coligações, o fim do foro privilegiado, o voto distrital misto, regras que limitem o número de partidos, entre outras coisas. A reformulação institucional no Brasil deve ser profunda”.

Como se sabe em Brasília não há eleições este ano. Não tenho, portanto, condições de comentar o “clima”, mas andei vendo pesquisas (para prefeito) em algumas capitais. A esquerda está sendo engolida, mormente o Psol e o PT (se é que ambos sejam, de fato, partidos de esquerda). Vejo nisso duas origens: os desgovernos petistas e os equívocos das esquerdas, que não conseguem fazer um discurso moderno, atualizado, limitando a repetir o jargão, os clichês e as palavras de ordem do passado, os mesmos que o Velhote do Penedo cansou de ouvir e repetir nos anos 1960.

Então, além da reconstrução econômica, há duas missões pela frente: redefinir a esquerda, construindo um discurso moderno sobre o Brasil e o mundo; reconstruir o cenário institucional, o que, a meu ver, tem como premissa uma constituinte. A constituição de 1988 reflete, sobretudo, a euforia da redemocratização; o que lhe faltou foi um olhar firme sobre o futuro, daí as sucessivas crises políticas que atravessamos.

Tudo está a ser reconstruído no Brasil: a educação, a saúde, os diversos sistemas infraestruturais, a mobilidade urbana. Temos quase 13 milhões de desempregados, o que significa mais de 35 milhões de pessoas afetadas. Dois milhões de pessoas deixaram de pagar planos de saúde, e o SUS transformou-se numa tremenda porcaria. Mais de 70% das famílias brasileiras, que embarcaram no “nacional-consumismo” da Dilma, estão endividadas – e não têm como resolver este problema. As vendas comerciais despencaram, a participação do setor industrial no PIB caiu, brutalmente, e evidencia, hoje, algo semelhante ao da década de 1940. O mercado imobiliário desmoronou - como mostrou recente matéria publicada na revista Exame.

Ontem, em Copacabana, mais de cem adolescentes e crianças provocaram um inacreditável arrastão, que assombrou moradores e turistas. Por que estes jovens não estão na escola? São jovens que não têm futuro – e, por isso mesmo, é trágico que os políticos, mormente os que se dizem de esquerda, nada façam, nada proponham, nada digam a respeito disso. Tenho, em meu poder, dado pelo Darcy Ribeiro, o projeto do CIEPs – e um dos seus objetivos era justamente tirar as crianças e adolescentes das ruas, afora proporcionar a eles um ensino de qualidade, alimentação, tratamento médico-odontológico (extensivo à sua família). O projeto dos CIEPs seria de longo prazo, mas ele foi selvagemente atacado por donos das escolas privadas e, surpreendentemente, pelo PT. Lembro-me de uma frase do Lula a respeito dos CIEPs: “Pobre não precisa estudar em hotel de cinco estrelas”.

O Brasil fez uma opção pelo atraso. Agora mesmo, no instante em que concluo este texto, Lula está falando – e informou a nós outros que ele – ele! – “criou o mais importante partido de esquerda do Brasil”. Encerro reafirmando que a esquerda, não a esquerda do espertalhão petista, precisa se repensar.

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