Bem, parece
que a coroa do Lula transformou-se em colarinho de palhaço.
Assisti parte
da apresentação dos procuradores, mas o que vi deu para o gasto. Lula foi chamado
de “comandante de uma quadrilha de criminosos” – ou, se não foi exatamente
isto, a coisa beirou algo semelhante.
Vi petistas
afirmarem que Temer dera o “golpe” com o objetivo impedir que Dilma levasse
adiante o seu maravilhoso governo e com a sinistra intenção de melar o processo
da Lava-Jato. O Brasil constatou, hoje, que ninguém será capaz de tumultuar o
andamento do processo – e que o PT mergulhou de cabeça na corrupção. E – parece
– vai pagar caro por isso. Transformar a denúncia contra Lula num fato político
é inócuo, pois as evidências e provas contra ele são taxativas. Mas parece que
o PT não vislumbra outra saída para a esparrela em que está enfiado.
O que me
parece é que, aos trancos e barrancos, as mazelas do país estão sendo expostas.
A população está tomando conhecimento das nossas misérias – e talvez estejam
compreendendo que há saídas possíveis, mas estas não são fáceis. Ninguém, nos
dias atuais, é capaz de defender o modelo político no qual estamos atolados.
Todos querem reformas - profundas ou superficiais -, mas todos, ou a maioria,
sabem que elas são essenciais. Minha principal proposta eu já apresentei aqui.
Transcrevo:
“Sou favorável a uma nova constituinte,
digamos, em 2018, em eleições separadas: os constituintes seriam eleitos apenas
com a missão de escrever uma nova constituição, com mandato de até dois anos. A
nova constituição seria votada e aprovada pelo Congresso, que teria seis meses
para tanto. Defendo o parlamentarismo, o fim das coligações, o fim do foro
privilegiado, o voto distrital misto, regras que limitem o número de partidos,
entre outras coisas. A reformulação institucional no Brasil deve ser profunda”.
Como se sabe
em Brasília não há eleições este ano. Não tenho, portanto, condições de comentar
o “clima”, mas andei vendo pesquisas (para prefeito) em algumas capitais. A
esquerda está sendo engolida, mormente o Psol e o PT (se é que ambos sejam, de
fato, partidos de esquerda). Vejo nisso duas origens: os desgovernos petistas e
os equívocos das esquerdas, que não conseguem fazer um discurso moderno,
atualizado, limitando a repetir o jargão, os clichês e as palavras de ordem do
passado, os mesmos que o Velhote do Penedo cansou de ouvir e repetir nos anos
1960.
Então, além
da reconstrução econômica, há duas missões pela frente: redefinir a esquerda,
construindo um discurso moderno sobre o Brasil e o mundo; reconstruir o cenário
institucional, o que, a meu ver, tem como premissa uma constituinte. A
constituição de 1988 reflete, sobretudo, a euforia da redemocratização; o que
lhe faltou foi um olhar firme sobre o futuro, daí as sucessivas crises
políticas que atravessamos.
Tudo está a
ser reconstruído no Brasil: a educação, a saúde, os diversos sistemas
infraestruturais, a mobilidade urbana. Temos quase 13 milhões de desempregados,
o que significa mais de 35 milhões de pessoas afetadas. Dois milhões de pessoas
deixaram de pagar planos de saúde, e o SUS transformou-se numa tremenda porcaria.
Mais de 70% das famílias brasileiras, que embarcaram no “nacional-consumismo”
da Dilma, estão endividadas – e não têm como resolver este problema. As vendas
comerciais despencaram, a participação do setor industrial no PIB caiu,
brutalmente, e evidencia, hoje, algo semelhante ao da década de 1940. O mercado
imobiliário desmoronou - como mostrou recente matéria publicada na revista
Exame.
Ontem, em
Copacabana, mais de cem adolescentes e crianças provocaram um inacreditável
arrastão, que assombrou moradores e turistas. Por que estes jovens não estão na
escola? São jovens que não têm futuro – e, por isso mesmo, é trágico que os
políticos, mormente os que se dizem de esquerda, nada façam, nada proponham,
nada digam a respeito disso. Tenho, em meu poder, dado pelo Darcy Ribeiro, o
projeto do CIEPs – e um dos seus objetivos era justamente tirar as crianças e
adolescentes das ruas, afora proporcionar a eles um ensino de qualidade,
alimentação, tratamento médico-odontológico (extensivo à sua família). O
projeto dos CIEPs seria de longo prazo, mas ele foi selvagemente atacado por
donos das escolas privadas e, surpreendentemente, pelo PT. Lembro-me de uma
frase do Lula a respeito dos CIEPs: “Pobre não precisa estudar em hotel de
cinco estrelas”.
O Brasil fez
uma opção pelo atraso. Agora mesmo, no instante em que concluo este texto, Lula
está falando – e informou a nós outros que ele – ele! – “criou o mais
importante partido de esquerda do Brasil”. Encerro reafirmando que a esquerda,
não a esquerda do espertalhão petista, precisa se repensar.
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