Depois que o
Renato Janine Ribeiro, professor de filosofia, afirmou que Dilma era uma pessoa
extraordinariamente culta e que falava latim com perfeição – cheguei à
conclusão que: 1) o puxa-saquismo não tem limites; 2) o senso de ridículo
tornou-se raro no Brasil.
As esquerdas
velhas e superadas acrescentaram ao “fora, Temer!” a exigência de “eleições diretas
já”, como se a história, mesmo como farsa, pudesse se repetir. Não pode. A
campanha das “diretas, já”, em 1983-1984, uniu todos os partidos, tínhamos
grandes lideranças civis engajadas, governadores dos estados de Minas, Rio e
São Paulo se uniram, a população estava praticamente unida em torno desse objetivo.
Nada semelhante ao que ocorre hoje.
É triste e,
ao mesmo tempo, constrangedor constatar que amigos meus, gente que respeito e
afianço, estejam embarcando nessa canoa furada, própria de um partido, o PT, e
das organizações a ele vinculadas, que perderam o discurso, a compostura e a
dignidade. As eleições desse ano mostrarão o quanto o PT murchou no Brasil – e o
quanto a população perdeu a fé e a crença na política e nos políticos. Será uma
lição, sem dúvida, que ninguém levará em conta.
Sou favorável
a uma nova constituinte, digamos, em 2018, em eleições separadas: os constituintes
seriam eleitos apenas com a missão de escrever uma nova constituição, com
mandato de até dois anos. A nova constituição seria votada e aprovada pela
Câmara dos Deputados, que teriam seis meses para tanto. Defendo o
parlamentarismo, o fim das coligações, o fim do foro privilegiado, o voto
distrital misto, entre outras coisas. A reformulação institucional no Brasil
deve ser profunda.
O Brasil
precisa de estabilidade – e de busca de solução dos problemas que aí estão. Vou
afirmar algo que julgo ousado: não espero que essa busca de solução seja coerente
com o que penso e julgo melhor para o Brasil, política e ideologicamente
falando. Não tenho, hoje, mais certeza sobre nada. Na minha idade, certeza é
algo que não cola mais. Olho tudo caso a caso, fato a fato – e nada mais. Estou
lendo o livro “Quando os fatos mudam”, de Tony Judt, cuja epigrafe, de Albert
Camus, diz tudo: “Tudo o que posso dizer é que existem pragas e existem vítimas
– e devemos fazer o possível para nos recusar a ficar do lado da praga”.
Acho
insensatez e desumanidade discutirmos embasamentos político-ideológicos quando
13 milhões de brasileiros estão desempregados. São 30 a 35 milhões de pessoas
afetadas com a crise do emprego, que tende a aumentar. E não só isso. 68% das
famílias brasileiras estão endividadas – vítimas do bizarro “nacional-consumismo”
inventado pelos governos petistas. A inflação aí está. Os juros dispararam. A
carestia está incontrolável.
Defendo – e tenho
escrito aqui – que a esquerda precisa se repensar. A esquerda ainda usa os
mesmos clichês dos anos 1960. As esquerdas – e os mestres e doutores da nossa
academia – não conhecem o Brasil, não conseguem compreender por que o Brasil
deu no que deu, ninguém escreve ou fala sobre a realidade brasileira, sem
recorrer, como verdades absolutas, a autores da década de 1930. Não estou
desprezando as contribuições de Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda,
Oliveira Lima, Gilberto Freyre, entre tantos outros. Afirmo que hoje não temos
mais gente como os citados. Recuso-me a pensar que Feghalli, Gleisi, Lindenberg,
Fátima sei lá o quê, Boulos, Stédile, Molon, Erundina, Emir Sader, para citar
alguns apenas, formem a nossa gloriosa esquerda. Prefiro o exército do
Brancaleone.
A
universidade brasileira, no campo das ciências sociais, sempre viveu à luz dos
autores estrangeiros da moda. Houve um tempo que todos carregavam no sovaco os
livros de Althusser. Um dia, porém, Althusser foi substituído (hoje ninguém fala
nele): surgiram então Marcuse, Foucault, Habermas, Adorno, Bourdieu e Boaventura
dos Santos, não necessariamente nessa ordem. Escreveu-se, na academia, sobre
tudo, menos sobre o Brasil. Pegava mal escrever sobre o Brasil – parece. Darcy
Ribeiro talvez tenha sido o único pensador social a pensar e escrever sistematicamente
sobre o Brasil. É pouco.
A verdade é
que os acadêmicos brasileiros pensam clichês manjados. Ontem, domingo, 11 de
setembro, tentei acompanhar a entrevista de Jessé de Souza ao jornalista
Moreno. Desisti no instante que o espírito petista, misto de Lindenberg e da Chauí,
baixou no Jessé e ele, despudoradamente, falou na classe média – branca,
alienada, de direita, que não aceitava a ascensão do negro pobre. O que fazer?
Depois do ataque às Torres Gêmeas e do Golpe Militar contra Allende, a
entrevista do Jessé será o marco brasileiro do 11 de setembro.
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