Recebi
inúmeras mensagens sobre as manifestações “fora Temer”. Não vi nenhuma manifestação
“volta Dilma”. Mas isto é um detalhe. Os manifestantes são equivocados, mas não são loucos.
Vi candidatos
a prefeito e vereador em meio ao povo, como o patético Suplicy, que, para não
passar em branco, teve a carteira batida. Deve ter concluído que o punguista
que levou os seus caraminguás deve ser um fascista disfarçado. O fato é que
Suplicy sempre faz das suas: desde deitar-se no chão e sair carregado como se
fosse (ele próprio) um ataúde, como ser tungado em meio a uma garotada que não
estuda, não pensa e não sabe o que diz - cujos palpites são sempre infelizes.
Sou um permanente saudoso de Noel. Desculpem.
Muitos amigos
que sinceramente respeito e admiro, admitem que esse é o momento exato de pedir
“diretas já”. Impossível. Nenhum dos três grandes partidos – PT, PSDB e PMDB –
por razões diversas vão defender esta causa. O PT saiu do episódio do
impeachment muito queimado e foi levado à UTI, onde lambe suas feridas, que são
muitas. O PT, que levará uma tunda nas próximas eleições, sabe que perderia qualquer
corrida presidencial, cabendo-lhe papel subsidiário no processo. PSDB tem uns
cinco possíveis candidatos – e a defesa de eleições diretas produziria o esfacelamento
do partido, que, pior ainda, não tem uma ideia clara do que faria na presidência.
O PMDB é, hoje, o menos interessado nessa história de “diretas, já”. Como dizia
brincando o meu velho mestre Manuel Maurício, as “tais massas” não teriam condições
de levar o processo sem os partidos.
A versão
1983-1984 (das Diretas já) aconteceu numa conjuntura muito própria: todos os
partidos, da direita à esquerda estavam unidos, governadores de estados vitais,
como Brizola, Tancredo e Montoro, se engajaram, lideranças como Covas, Ulisses,
Richa, entre outros, lideranças e nomes civis (Sobral Pinto, Faoro) estavam à
frente do movimento. Teríamos, nos dias atuais, gente desse quilate? Comparem:
o governador do Rio de Janeiro, além de gagá, mal consegue pagar os
funcionários; o de Minas vive acuado pelo Lava Jato; o de São Paulo, bem, é uma
lástima. O inimigo era um só, as eleições indiretas e o estertor da ditadura, o
que facilitou a união dos partidos.
Claro, o
Brasil está num beco sem saída. Comparo o legado petista à destruição da Síria.
Agora mesmo vi que a Polícia Federal desencadeou uma operação contra fraudes
nos quatro maiores fundos de pensão. Por isso, acho, no mínimo, curioso um
conhecido meu me informar que o governo Temer é corrupto. Acho que esse amigo
meu, que admiro, está sofrendo de demência senil, pois alterna risos, frases
desconexas e raciocínios claros. A confusão mental é grave – e em geral
desemboca no uivo final. Bem verdade que ninguém está livre disso. Mas isto é
outra história.
Melhor que “Diretas
já” talvez fosse melhor defender “Constituinte já”, além de mudanças de uma
legislação superada, contraditória e equivocada. A mobilização tinha que ser
nesse sentido, estabelecendo novas e modernas regras e leis voltadas para a
vida política brasileira, cujos escombros são visíveis. A pressão popular tem
que ser nesse sentido, embora as dificuldades sejam muitas e grandes.
Nota
necessária:
Ouvi, gravei
e transcrevo as palavras de uma militante petista, muito bonitinha (desculpe o
escorregão machista): “Luto contra a direita porque sou de esquerda. Eles não
são como a gente, porque nós somos de esquerda e eles são de direita. Somos de
esquerda porque lutamos ao lado do povo. Eles odeiam o povo. Nós amamos o povo”.
Tal ideário faria Lindenberg chorar de emoção. Eu, na idade da menina, militava
na Polop, participava de grupos de estudo da obra de Marx – e já tinha lido
obras máximas da literatura mundial e brasileira. Digo isto não para me
valorizar, nem para desvalorizar a jovem, mas para dizer a todos que o meu lema
de vida veio de uma música do Paulinho da Viola, com quem – criança - joguei
pelada nas ruas Fernando Guimarães: “a vida não é só isso que se vê – é um
pouco mais”. Esse pouco mais é o que falta à maioria dos manifestantes
petistas.
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