O grande escritor
e compositor Nei Lopes, no samba “Dicionário”, de sua autoria e Everson Pessoa,
canta uma frase que resume tudo o que eu pretendo escrever: “É preciso cuidado
com o que a gente fala/a boca mais sábia é aquela que cala”. Não estou – aviso
logo – defendendo a censura, a autocensura ou a paz e o silêncio dos pântanos.
Estou defendendo a ponderação, a capacidade de pensar, refletir sobre o
objetivo antes de proferir um julgamento, uma avaliação. Pensar é um prazer,
alertou Theodore Dalrymple, médico psiquiatra e ensaísta, que, embora seja
conservador (não tenho medo de lê-lo e recomendá-lo), discute questões importantes
do nosso tempo com originalidade e pertinência.
Hoje, no
Brasil, todos falam sobre tudo, tenham ou não conhecimento do assunto. Pior:
nos dias atuais, em meio a uma crise provocada pela inépcia petista, em meio a
comprovações de corrupção, que envolve partidos políticos (principalmente o
PT), empresários, servidores públicos, todos se julgam no direito de dizer o
que bem queiram a respeito. Lembro-me que quando o José Dirceu houve uma onda
imensa, falou-se em perseguição; hoje, ninguém fala mais no Dirceu – mas, no
Lula, que enriqueceu no poder e na rede de montada para servi-lo.
Da universidade
brasileira, mantida com dinheiro de um povo espoliado e, em geral, ignorante, vêm
as piores avaliações sobre a crise do país, pois eivada de jargões (dos anos
1950), analogias históricas despropositadas, comparações esdrúxulas,
comentários sem consistência, abaixo-assinados que ofendem a nossa inteligência.
Comentei recentemente um ranking de 500 universidades no mundo, que mostra bem
o ponto que as universidades brasileiras chegaram. Todos culpam o governo, os
salários, mas raros são os que ferem uma questão essencial: o professorado, a
maioria envelhecida, superada, que repetem hoje o que disseram ou ouviram há décadas,
quando ainda eram estudantes.
Quando
escrevi a “Pequena bibliografia crítica do pensamento social brasileiro”,
frequentei muito a Biblioteca da UnB, além das do Senado e da Câmara. Nunca vi
um só professor por lá, e, naqueles anos, não havia ainda internet. Sou um
leitor voraz – e às vezes ao conversar com professores que encontro, falo de um
ou outro autor, do qual o “mestre” jamais ouviu falar. Quando eu estava a
escrever “O rebelde esquecido – tempo, vida e obra de Manoel Bomfim”, conversei
com dois ilustres mestres (Renato Janine Ribeiro e Leôncio Martins Rodrigues),
que sequer sabiam da existência do meu biografado. Vi, outro dia, uma
entrevista do ex-presidente (governo Dilma) do IPEA, Jessé de Souza, que me deu
vontade de chorar lágrimas de esguicho, como dizia Nelson Rodrigues.
Repito: a
maioria dos professores universitários perdeu o bonde – e limita-se a repetir
jargões, cacoetes ideológicos, que são de arrepiar. Mais uma vez: as esquerdas
precisam se reciclar, repensar seus modelos de interpretação, modernizar-se,
não tem sentido ficar repetindo hoje o que se dizia na Albânia, URSS, na
Alemanha Oriental, nos anos 1950, como se fossem verdades eternas.
Li, hoje, uma
entrevista do mestre Laymert Garcia dos Santos, da Unicamp, que não teve o
menor pudor de dizer que “já vivemos um Estado de Exceção semelhante ao
nazismo”. Agora vejam: ele deve dizer isto em sala de aula, muitos alunos vão
sair por aí repetindo o absurdo (“Foi o Laymert quem disse, sabia?”) e ele, ao
se deitar, irá se sentir consciente de que transmitiu um inesquecível ensinamento.
Talvez tenha sonhos povoados de anjos. Um inconsciente.
O “Estado de
Exceção semelhante ao nazismo”, segundo o mestre, deve-se às ações da Procuradoria
Federal e da Justiça, que estão prendendo e investigado ladrões de alto
coturno, que o professor Laymert deve admirar, inclusive porque foram capazes
de montar uma estrutura de roubalheira imensa, cheia de ramificações. Gente
como esse professor deve ser daqueles que, imbuído do seu saber marxista (de
galinheiro, como dizia Nelson Rodrigues), acham que o combate à corrupção é
coisa de pequeno burguês, de direita.
Além, do
Laymert, li um comentário do comentarista Juca Kfouri, que nada de novo tendo a
dizer, afirmou: “Mantega não seria capaz de roubar um tostão”. Descobri,
afinal, que São Francisco de Assis ressurgiu na pele do Mantega – nós que não
aceitamos certas verdades que gente como o Juca está sempre de olho.
Laymert, Juca
e Jessé. Meu Deus, temos futuro?
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