sábado, 18 de março de 2017

Carne podre e envenenada


Sempre disse: o Brasil chegou ao máximo que pode chegar – como nação e como civilização. Não estamos diante do abismo, estamos diante da linha de chegada. Construímos em 517 anos uma civilização regressista, atrasada, que, como dizia o Darcy, prefere construir presídios a escolas decentes para a juventude. Uma civilização incapaz de oferecer saúde, transporte, segurança a uma população espoliada: ou está desempregada ou está empregada pagando impostos para manter uma máquina estatal mastodôntica.

Um país onde todos – podendo - roubam. Somos campeões em atraso educacional e cultural. Vivo em Brasília, a capital da República dos Balangandãs, cuja vida cultural não tem a altura do meio-fio. Uma cidade de um único jornal, de baixa qualidade. Pouco saio – prefiro ficar em casa lendo (livros), ouvindo música e escrevendo. Meus filhos acham que devo fazer exercícios, mas onde? Outro dia fui a uma academia perguntar o valor da mensalidade, horários – quando ouvi uma música tipo bate-estaca, altíssima, que, segundo a jovem que me atendia, estimula os exercícios. Agradeci – e fui embora. Ficar uma hora numa esteira, como se fosse um hamster, e ser obrigado a ouvir aquela música – jamais!

Agora essa: carne podre, envenenada e misturada a papelão. Bem, o Velhote do Penedo não come carnes vermelhas, nem determinados embutidos. Come carne branca: peixe e peito de frango. Agora terá que corta o peito de frango. Empresas enormes, multinacionais e servidores públicos (fiscais) – uma quadrilha poderosa, em grana e abrangência encarregava-se de envenenar silenciosamente a população. Que fazer com essa gente? Defendo prisão perpétua. Ontem, a justiça soltou a mulher do Sérgio Cabral – amanhã vão soltar o próprio, duvidam?

O que me impressiona é que, mesmo diante da Lava Jato, as quadrilhas brotam em todos os escaninhos da vida brasileira – quadrilhas que acham que nunca serão pegos. Outro dia, conversei com um administrador de uma universidade privada. No momento em que as universidades caem aos pedaços, estão arruinadas, as universidades privadas vão bem com a grana que recebem dos alunos, via Fies e Prouni. Ou seja, ao invés de bancarmos as universidades públicas, facilitamos a vida das universidades privadas – usando um truque ideológico: com o Fies e o Prouni os jovens pobres puderam fazer o ensino superior, afirmam os ideólogos. O que fazer?

Amanhã, o Vasco, sem técnico, joga contra o Botafogo. Bem, perder para o Botafogo não me põe infeliz, mas que é duro ser vascaíno, ah, isso é!

Bom fim de semana para todos os meus amigos.

domingo, 5 de março de 2017

Dez milhões num envelope? Nem a pau!

Torno a repetir: o tal “envelope” ou “pacote” entregue ao Yunes, que o teria repassado ao Padilha, não continha 10 milhões nem a pau. Cheque? Impossível: é fácil de rastrear. Recibo de depósito ou de transferência? Também é fácil de rastrear. O que havia então no “envelope” ou no “pacote”? É a pergunta mais importante – e quem vai, ou pode, respondê-la é o inquérito, ou seja, os peritos e a polícia federal. O resto é especulação e forte dose de irresponsabilidade.

A imprensa televisiva gosta mesmo é de especulação. Os jornalistas da Globo News adoram fazer comentários dúbios, insinuantes, matreiros, enroscados como rabo de porco. Como os telejornais são longos e repetitivos, cada comentarista ou repórter acrescenta, a cada aparição, um novo ingrediente, que irá justificar o comentário seguinte – numa sucessão de insinuações, “ouve-se dizer”, “Temer pensa”, “comenta-se em Brasília”, "uma fonte", por aí. Tais comentários, por sua vez, reverberam nas redes sociais, que, por sua vez, acrescentam um novo ingrediente à “notícia” ao sabor da visão política e ideológica de cada um. A pergunta que se impõe é a seguinte: esta ciranda é democrática? Ou melhor: ela faz bem à democracia?

Não sou contra a imprensa, mas absolutamente contra o falso jornalismo, o jornalismo delinquente. Não defendo – e nunca defenderei a censura, a restrição ao noticiário, a definição de normas, regras, que pretendam restringir a liberdade de imprensa. Mas é certo que o jornalismo que se pratica hoje no Brasil, sobretudo na TV, é abusivo, calhorda e canalha. Os jornalistas televisivos têm um instrumento importante a seu favor, mas os demais cidadãos não têm como se defender. Outro dia, um hacker afirmou que tinha colhido informações dos meios eletrônicos da Primeira Dama, que, se divulgados, enlamearia a biografia do presidente. Um crime, agravado pelo fato de que o hacker tentou chantagear o presidente. Dois crimes. Pois eu vi a Renato Lo Prete sugerir que a informação sobre Temer devia aparecer, no que o seu entrevistado (um professor) disse que não podíamos coonestar com um duplo crime. A jornalista calou-se. Como calou-se diante do João Dória, quando este a colocou em seu devido lugar.

Repito o que venho dizendo: um sujeito citado numa delação premiada não se transforma em réu, nem pode ser tratado como tal. Li e ouvi que o sujeito da Odebrecht tinha jantado com Temer, e recebeu um pedido de grana. O depoimento vazou e o sujeito da Odebrecht não tinha dito nada disso. O jantar tinha sido apenas um jantar, no qual não se falou em dinheiro.

Durante a ditadura havia a figura do “dedo-duro”. O Velhote do Penedo foi vítima de dedo-duro – e sabe do que está falando. Delação premiada é um instrumento legal, a ser usado pela justiça, que reúne muitas informações, cruzando-as, a fim de chegar a uma conclusão. O jornalismo brasileiro usa informações vazadas de modo irresponsável, canalha – e o fazem com total inconsequência e idiotia.

A imprensa brasileira, principalmente a televisiva, sobretudo a da GN, me dá a impressão de que perdeu o juízo. Como muitos jornalistas estão sendo demitidos, todos procuram o “furo”, o “que somente eu sei”, e congêneres. Querem talvez garantir o seu emprego.

Repito a pergunta: esse tipo de jornalismo é democrático? Faz bem à democracia?

sexta-feira, 3 de março de 2017

Um manifesto lamentável


Quatrocentos cidadãos assinaram um manifesto (ou carta-aberta) pedindo a Lula que antecipe o lançamento de sua candidatura à presidente da República, em 2018. Os signatários se autoproclamaram “intelectuais”, embora, para citar um só exemplo, um deles informou que era um “ocupante de escola”. Não importa. Escrevi o texto abaixo e o postei na minha página do Facebook. Como julgo o tema relevante, trago ele agora para o meu blog.

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Lamentável. Triste. Pesaroso. Está certo que as pessoas façam suas escolhas, tenham absoluta liberdade de externar suas opiniões, mesmo que, no fundo, não tenham consciência disso. Não defendo, jamais defendi e nunca defenderei a censura, muito menos a truculência. Estou sendo vítima da censura e experimentei no lombo a truculência. Desprezo a censura e a truculência - venham da direita, do centro ou da esquerda.

Chico Buarque, por exemplo, no episódio do processo de Roberto Carlos contra o escritor Paulo César de Araújo ficou do lado da censura, que foi exercida com todos os requintes de brutalidade. Roberto Carlos, após exigir que os exemplares de sua biografia fossem recolhidos, montou uma belíssima fogueira e – bem, só faltou Caetano, Gil, Chico Buarque, Djavan e  o outros, de mãos dadas, rodopiando em torno das labaredas ao som alegre do “Apesar de você”. Triste que tenhamos chegado a esse ponto.

Chico está entre os 400 intelectuais que pediram a volta do Lula, um sujeito rejeitado pela população (a julgar pelas últimas eleições) e réu em cinco processos criminais. Li o manifesto ou carta aberta, não sei o nome que deram. 400 intelectuais - grande parte deles nada tendo a mostrar no campo do saber, do conhecimento ou da arte. Li o manifesto (ou que nome tenha), constatei dois erros de português, um deles grosseiro – e, aí, resolvi escrever a respeito. Não vou ofender ninguém, nem deplorar a coragem de muitos que ali postaram suas assinaturas, sem se dar conta (ou dando) que Lula é, na verdade, um espertalhão, um carreirista, que joga para si, jamais para a esquerda, para a direita ou para o centro. Tais categorias não existem para Lula. Ele não é nada – e, nesse nada, fez carreira e fortuna.

Não creio que Lula se candidatará. Tenho certeza que ele descobriu um novo papel para sua trajetória oportunista: a de vítima que, com um pouco de sorte, poderá, na calada, usufruir da fortuna que amealhou.