domingo, 21 de maio de 2017

Não se brinca com fogo!


Suspeito, no mínimo, foi o acordo de delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista com a Procuradoria-Geral da República.

A JBS mamou do BNDES cerca de onze bilhões de reais em séries contínuas de operações, que os auditores do Tribunal de Contas da União definiram como prejudiciais ao banco estatal. O acordo firmado entre os Batistas e a PGR implicava no pagamento pela JBS de uma multa irrisória: 225 milhões de reais, única – única! – penalidade que os irmãos sofreram. Vejam bem: eles não foram presos, sequer passaram a usar tornozeleiras eletrônicas, podiam continuar residindo nos Estados Unidos, onde, por sinal, se encontram. “Um golpe de mestre”, disse um auditor do TCU segundo a repórter Consuelo Dieguez, da revista Piauí. A multa acordada pelos irmãos Batista com a PGR representa míseros 2% da grana que os manos tinham – como se dizia nos anos 1950 - abiscoitado em transações (suspeitas) com o BNDES.

Esta semana novos fatos surgiram envolvendo os irmãos Batista, mais especificamente o Joesley. Entre tais fatos, o pior de todos, foi a bomba que Joesley plantou no colo do presidente Temer. Joesley teria gravado um diálogo com Temer, no qual o presidente avalizava uma ação de obstrução da justiça, mediante a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Tal informação foi estampada no O Globo, na coluna do jornalista Lauro Jardim, e espalhou-se pela mídia e pelas redes sociais como fogo em capim seco. Falou-se em renúncia do presidente – ao mesmo tempo em que um deputado oportunista apresentou um pedido de impeachment do presidente. Interessante: o referido deputado já tinha o pedido pronto, como se já soubesse o que iria acontecer. Na revista Piauí, a advogada Janaína Paschoal informou que levou dias elaborando o pedido de impeachment da Dilma; o deputado Molon levou minutos. Um gênio?

Criado o furdúncio, com a Rede Globo martelando a cada instante o episódio, sugerindo, como se isso fosse o papel de jornalistas honestos, a renúncia do presidente, e especulando irresponsavelmente as consequências políticas de tudo aquilo – eis que a gravação da conversa entre Joesley e Temer surge, com o objetivo de, enfim, sacramentar o que todos diziam. Contudo, logo fica patente que a fita tinha mais de 50 falsificações e, pior, não mostrava nenhum comentário do presidente que sugerisse ou cheirasse à obstrução de justiça. A Rede Globo, nessa altura, não tinha (nem tem) como recuar: manteve o lero-lero, indiferente ao desmoronamento da tramoia. Os jornais O Estado de São Paulo e Folha de S. Paulo, bem a Rede Bandeirantes, caminharam no sentido oposto. O Jornal da Band, inclusive, chegou a fazer uma comparação com o que diziam os jornais da Rede Globo com os fatos reais.

As coisas, porém, não ficaram só nisso. O furdúncio ocorreu no dia 18/05 – o abalo político refletiu-se na bolsa, no valor do dólar e na saída de recursos do país. Fala-se que o prejuízo do país foi da ordem de 300 bilhões. O dólar teve uma subida recorde, a maior dos últimos 20 anos. Ocorre que, na véspera, o país em calma, o dólar baixo, a JBS comprou um montão de dólares, ganhando, pelo que se sabe até agora, cerca de um bilhão de reais com a alta do dia seguinte! Ou seja: três vezes o valor da multa que a JBS foi obrigada a pagar à PGR. Agora, fala-se que os órgãos públicos que cuidam desses assuntos irão investigar a operação. E isto, gente, sem que o STF e a PGR dissesse nada.

Os jornais de hoje (domingo, 21/05) mostram três notícias que merecem atenção. Um deles informa que o ministro Fachin irá pedir perícia da gravação da conversa entre Joesley e Temer. Agora, é? O que Fachin precisa explicar é como e porque ele aceitou a gravação de uma conversa do presidente da República que o STF não autorizou. Outro jornal nos diz que “peritos da Polícia Federal disseram que anexar áudio sem perícia é inaceitável”. Por fim, o esclarecimento de que a JBS (leia-se Joesley) teve “aula de delação 15 dias antes de gravar a conversa com presidente Temer”.

Estou certo de duas coisas: armou-se uma grande tramoia contra Temer (não uso a palavra golpe porque o PT e o PCdoB a desmoralizou); outras sujeiras vão aparecer nos próximos dias desnudando a tramoia.

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Em tempo:

Um amigo meu iniciou uma discussão comigo completamente fora do contexto. Ele atacou o presidente Temer, defendendo sua renúncia, por causa das reformas, sobretudo a previdenciária, que segundo ele não teve a devida transparência. Bem, eu não estou defendendo o Temer, nem defendendo suas reformas; estou denunciando a tramoia e os seus efeitos sobre a vida de 14 milhões de desempregados e 10 milhões de subempregados. Por outro lado, discordo que as discussões sobre as reformas não foram claras. A reforma da previdência encontra-se na Internet, o relatório aprovado pela comissão idem, houve várias audiências públicas, jornais e revistas publicaram matérias, os partidos políticos e as ONGs fizeram discussões. Há quem defenda a reforma, há quem não defenda. Repito: sou contra o golpe/tramoia – e sobre todas as incertezas que a sua consumação pode trazer ao país. A vida me ensinou que não se brinca com fogo.

sábado, 20 de maio de 2017

País de vermes


Assisti trechos da delação de mafioso Joesley. Não tive estômago para assistir até o fim. Desliguei a TV me perguntando: por que esse cara não está preso? Como um sujeito como esse Joesley, notório salafrário, fez a lambança e mandou-se para Nova York, onde deve estar dando gargalhadas – de todos nós, que vamos arder da fogueira que ele armou com a cumplicidade de muitos.

Não me venha falar em acordos, tratativas, leniência, delação premiada. O que há por trás de tudo isso é uma tremenda farsa, uma tramoia – e, sempre que há farsas e tramoias políticas, traições e covardias sob os mais variados modos e justificativas. Não vou tratar disso agora, mas traidor foi Roberto Freire, que largou deslealmente o seu chefe, pouco interessado em saber o que havia, de fato, acontecido. Na fatídica reunião ministerial da madrugada de 24 de agosto de 1954, muitos ministros abandonaram Getúlio Vargas, largando-o à própria sorte. Pois Roberto Freire, como tantos ministros daquela época, desnudou deslealdade, covardia e oportunismo. Espero que outros políticos do PPS, entre os quais o meu amigo Cristovam Buarque, não sigam os passos do desleal Roberto Freire.

Sabemos hoje que na maré do turbilhão, a JBS ganhou mais de um bilhão na venda dos dólares que comprara um dia antes. Sabemos, também, que a gravação do diálogo entre Temer e Joesley foi forjado, frases foram truncadas, ruídos foram acrescentados. Janot e Fachin estranhamente aceitaram de pronto a gravação, que, inclusive, não tinha sido autorizada pelo STF – logo seria ilegal e não poderia ser incorporada aos autos. Há quem diga que o presidente Temer não deveria ter recebido Joesley e não devia ter ouvido o que Joesley disse: mas será que Temer ouviu mesmo as frases ditas por Joesley? As frases são foram acrescentadas depois na gravação forjada? Li, não lembro onde, uma frase que diz mais ou menos o seguinte: não se pode obter nenhum benefício a partir da própria torpeza. Joesley foi torpe – e mereceu da justiça brasileira o benefício de sair do Brasil e se instalar num hotel de luxo em Nova York.

O que se pretende com todo esse turbilhão? Não parece haver dúvida que Joesley fez o que fez cumprindo ordens. Em troca ganhou alguns benefícios – em espécie e em vantagens jurisdicionais.

O Brasil parou, as reformas foram para o espaço e as possibilidades, mesmo remotas, de melhoria das condições de vida do povo brasileiro derreteram.

Quando disse que não renunciava, Temer mostrou uma coragem e uma firmeza raras na política brasileira. Muitos, no lugar dele, iriam embora cuidar da própria vida – e assistir de camarote o Brasil seguir a sua sina de atraso. Como disse certa vez o jornalista Cláudio Abramo: somos um país de vermes.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Uma grande tramoia!


Eu não tenho dúvidas.

Houve uma flagrante armação contra o presidente Temer. Resta saber: nomes dos atores envolvidos na trampa, o que pretendiam ganhar, seus objetivos, o que farão a seguir.

De início, é bem possível que a Rede Globo tenha desempenhado papel essencial na tramoia, pois divulgou, durante um dia inteiro a “notícia” de que Temer teria acertado com Joesley um esquema de pagamento mensal ao Eduardo Cunha com vistas a “comprar” o seu silêncio. A divulgação foi maciça – e só no fim da tarde de ontem (18/maio) pôs no ar a gravação da conversa entre Temer e Joesley. Uma gravação confusa, inaudível em alguns trechos, mas da qual os comentaristas da emissora “tiravam” conclusões e transmitiam aos ouvintes, que, por sua vez, postavam em redes sociais. Estava montado o turbilhão.

Um detalhe, porém, ficou claro. O comentário de Temer – “Mantenha isso” – que, segundo a Rede Globo, teria sido feito, segundo os comentaristas da Rede Globo, após a informação (de Joesley) de que estava pagando mesada para Eduardo Cunha. Ocorre, porém, que o comentário de Temer seguiu-se, na verdade, à outra frase do delator: “Eu estou com bom relacionamento com Cunha”.

Ou seja, Temer, segundo a gravação, disse apenas que ele (Joesley) devia manter um bom relacionamento com Eduardo Cunha. Só. Temer é um sujeito muito formal e educado – jamais diria algo agressivo naquela oportunidade.

Agora, outro detalhe: as notícias sobre o diálogo entre Temer e Joesley explodiram no dia 18, produzindo um furacão na bolsa – títulos desabaram e o dólar teve a sua maior alta nos últimos 20 anos. Ocorre que, na véspera, quando o país estava em calma, a JBS comprou milhões de dólares! E os deve ter vendido no dia seguinte! (Quem vai investigar?)

Ou seja, a JBS comprou dólares na baixa (dia 17) – e ganhou uma grana preta no dia seguinte  quando o dólar explodiu. E o dólar explodiu quando foi divulgado com estardalhaço, pela Rede Globo, o diálogo deturpado (talvez editado) entre Temer e Joesley. O dono da JBS possivelmente sabia que a divulgação do seu diálogo com Temer seria no dia 18/05, tanto que comprou os dólares na véspera. A trampa é visível – só não vê quem não quer.

Há outros aspectos nebulosos no episódio. Joesley (e o irmão) está sendo investigado? Por que não teve o seu passaporte retido, como todos que estão sendo investigados? Joesley está nos Estados Unidos – longe da lambança que produziu.

A informação da compra de dólares pela JBS, o Velhote leu no Blog do Noblat e no Blog Leandro Narloch.

Trecho do Blog do Noblat (leiam com atenção):

“O mercado financeiro estava morno ontem (17/05), com avaliações positivas sobre a aprovação das reformas. Mas, no fechamento, viu-se que a JBS comprou dólares em grandes quantidades. Agora (18/05) se sabe a razão”.

Ficam, portanto, algumas perguntas: apenas a JBS comprou no dia 17 dólares em grandes quantidades? E a Rede Globo, comprou? Se não comprou, por que não noticiou o fato? E os comentaristas, sabiam previamente de tudo? Por que Joesley está solto, instalado em Nova York? A delação premiada dele envolvia sua soltura?

Mas a pergunta essencial é a seguinte: o que se pretendia com tudo isso? Tumultuar a Lava Jato? Inviabilizar as reformas? Criar o caos?

Bem, as perguntas são várias.