Suspeito, no mínimo, foi o acordo de delação premiada dos irmãos Joesley
e Wesley Batista com a Procuradoria-Geral da República.
A JBS mamou do BNDES cerca de onze bilhões de reais em séries contínuas
de operações, que os auditores do Tribunal de Contas da União definiram como
prejudiciais ao banco estatal. O acordo firmado entre os Batistas e a PGR
implicava no pagamento pela JBS de uma multa irrisória: 225 milhões de reais,
única – única! – penalidade que os irmãos sofreram. Vejam bem: eles não foram
presos, sequer passaram a usar tornozeleiras eletrônicas, podiam continuar residindo
nos Estados Unidos, onde, por sinal, se encontram. “Um golpe de mestre”, disse
um auditor do TCU segundo a repórter Consuelo Dieguez, da revista Piauí. A
multa acordada pelos irmãos Batista com a PGR representa míseros 2% da grana
que os manos tinham – como se dizia nos anos 1950 - abiscoitado em transações
(suspeitas) com o BNDES.
Esta semana novos fatos surgiram envolvendo os irmãos Batista, mais
especificamente o Joesley. Entre tais fatos, o pior de todos, foi a bomba que
Joesley plantou no colo do presidente Temer. Joesley teria gravado um diálogo
com Temer, no qual o presidente avalizava uma ação de obstrução da justiça,
mediante a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Tal informação foi
estampada no O Globo, na coluna do jornalista Lauro Jardim, e espalhou-se pela
mídia e pelas redes sociais como fogo em capim seco. Falou-se em renúncia do
presidente – ao mesmo tempo em que um deputado oportunista apresentou um pedido
de impeachment do presidente. Interessante: o referido deputado já tinha o
pedido pronto, como se já soubesse o que iria acontecer. Na revista Piauí, a
advogada Janaína Paschoal informou que levou dias elaborando o pedido de
impeachment da Dilma; o deputado Molon levou minutos. Um gênio?
Criado o furdúncio, com a Rede Globo martelando a cada instante o
episódio, sugerindo, como se isso fosse o papel de jornalistas honestos, a
renúncia do presidente, e especulando irresponsavelmente as consequências
políticas de tudo aquilo – eis que a gravação da conversa entre Joesley e Temer
surge, com o objetivo de, enfim, sacramentar o que todos diziam. Contudo, logo
fica patente que a fita tinha mais de 50 falsificações e, pior, não mostrava
nenhum comentário do presidente que sugerisse ou cheirasse à obstrução de
justiça. A Rede Globo, nessa altura, não tinha (nem tem) como recuar: manteve o
lero-lero, indiferente ao desmoronamento da tramoia. Os jornais O Estado de São
Paulo e Folha de S. Paulo, bem a Rede Bandeirantes, caminharam no sentido
oposto. O Jornal da Band, inclusive, chegou a fazer uma comparação com o que
diziam os jornais da Rede Globo com os fatos reais.
As coisas, porém, não ficaram só nisso. O furdúncio ocorreu no dia 18/05
– o abalo político refletiu-se na bolsa, no valor do dólar e na saída de
recursos do país. Fala-se que o prejuízo do país foi da ordem de 300 bilhões. O
dólar teve uma subida recorde, a maior dos últimos 20 anos. Ocorre que, na
véspera, o país em calma, o dólar baixo, a JBS comprou um montão de dólares,
ganhando, pelo que se sabe até agora, cerca de um bilhão de reais com a alta do
dia seguinte! Ou seja: três vezes o valor da multa que a JBS foi obrigada a
pagar à PGR. Agora, fala-se que os órgãos públicos que cuidam desses assuntos
irão investigar a operação. E isto, gente, sem que o STF e a PGR dissesse nada.
Os jornais de hoje (domingo, 21/05) mostram três notícias que merecem
atenção. Um deles informa que o ministro Fachin irá pedir perícia da gravação
da conversa entre Joesley e Temer. Agora, é? O que Fachin precisa explicar é
como e porque ele aceitou a gravação de uma conversa do presidente da República
que o STF não autorizou. Outro jornal nos diz que “peritos da Polícia Federal
disseram que anexar áudio sem perícia é inaceitável”. Por fim, o esclarecimento
de que a JBS (leia-se Joesley) teve “aula de delação 15 dias antes de gravar a conversa
com presidente Temer”.
Estou certo de duas coisas: armou-se uma grande tramoia contra Temer
(não uso a palavra golpe porque o PT e o PCdoB a desmoralizou); outras sujeiras
vão aparecer nos próximos dias desnudando a tramoia.
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Em tempo:
Um amigo meu iniciou uma discussão comigo completamente fora do
contexto. Ele atacou o presidente Temer, defendendo sua renúncia, por causa das
reformas, sobretudo a previdenciária, que segundo ele não teve a devida
transparência. Bem, eu não estou defendendo o Temer, nem defendendo suas
reformas; estou denunciando a tramoia e os seus efeitos sobre a vida de 14 milhões
de desempregados e 10 milhões de subempregados. Por outro lado, discordo que as
discussões sobre as reformas não foram claras. A reforma da previdência encontra-se
na Internet, o relatório aprovado pela comissão idem, houve várias audiências
públicas, jornais e revistas publicaram matérias, os partidos políticos e as
ONGs fizeram discussões. Há quem defenda a reforma, há quem não defenda. Repito:
sou contra o golpe/tramoia – e sobre todas as incertezas que a sua consumação
pode trazer ao país. A vida me ensinou que não se brinca com fogo.