sexta-feira, 16 de junho de 2017

A verdadeira desgraça da política brasileira


A cada dia que passa, é patente que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sofre de certa confusão mental que o leva a dizer uma coisa pela manhã, outra à tarde, que modifica à noite. Três palpites por dia, uma diferente da outra, sobre o mesmo assunto. Inegavelmente, FHC é um sujeito equipado intelectualmente, com grande tarimba política – não só resultado da sua experiência vivida como do que pôde assimilar, ao longo dos anos, ao conviver com gente da estirpe política de Tancredo Neves, Franco Montoro, Ulisses Guimarães, por aí.

Bem verdade que o PSDB parece barata tonta diante dos episódios da política brasileira – não sabe se é ou não, se fica ou não, se vai ou não, se apoia ou não. Em minha opinião, cada vez que FHC fala ou escreve o transtorno político do PSDB se amplia. É um partido-pião – gira, gira, gira e não sai do lugar.

Esta é a verdadeira desgraça da política brasileira. Temos carência de políticos capazes de compreender o momento - e, dele, retirar soluções em meio ao nevoeiro da crise. Um país, mormente um país como o Brasil, não sobrevive em meio a uma crise política que se alimenta, a cada dia, de palpites, boatos, oportunismos, informações deliberadamente tortas, intolerância, covardias, ódios recíprocos. Aparentemente, ninguém está preocupado com os 14 milhões de desempregados, 10 milhões de subempregados, dos jovens que perderam a esperança e investem sua vida na criminalidade, nos 52% da população sem infraestrutura sanitária, nos hospitais aos pandarecos, na educação falida. Nada disso parece preocupar políticos, imprensa, redes sociais. Todos estão interessados em dar exibições explícitas de ódio sob o disfarce de luta político-ideológica. Estamos afundando em meio a uma tempestade – e muitos supõem que estamos voando em céu de brigadeiro. A inconsciência e a alienação são apanágios do brasileiro.

Não sei se as reformas propostas por Temer são essenciais, mas acredito que sem reformas (política, judiciária, da previdência, trabalhista, urbana, entre outras) o Brasil não deslancha. Percebam que não estou defendendo as reformas de Temer – e, sim, reformas. O Brasil vestiu uma espécie de armadura de ferro – mas ela, hoje, impede o crescimento. O Brasil não pode viver eternamente como uma sardinha na lata. Precisa de espaço, de ar, de novas ideias e propostas.

Volto, para concluir, ao ex-presidente FHC. Penso que ele poderia dar enorme contribuição ao apaziguamento da crise brasileira, mas a verdade é que me parece que ele se recusa a fazer isso. Prefere dar entrevistas e escrever artigos que mais confundem os parvos (entre os quais me incluo). Afinal, de que lado está FHC? Do lado do agravamento (ou, vá lá, da perenização) da crise ou da cura da inflamação, que nos impede sair do buraco?

O Velhote do Penedo não é um esperançoso, mas acredita que os políticos e os intelectuais deviam ter vergonha na cara – e pensar naquela metade da população brasileira que está fora dos benefícios da civilização.

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