Ninguém
me viu aqui lançar ofensas contra Haddad. Ninguém me viu tratar Marina com
desabono. Ninguém me viu aqui injuriar o Bolsonaro, o Ciro, o Alckmin, o Dias e
os demais candidatos. Não ataquei nem ironizei ninguém por apoiar esse ou
aquele candidato. Meus amigos têm o direito de defender e acreditar no que
quiser. Não vou entrar na sua página para agredi-lo ou ofendê-lo, mas muitas
pessoas me agridem e ofendem pelo que escrevi. Aristóteles diz, na “Ética a
Nicômano” diz que “pessoas obstinadas podem ser divididas em três categorias:
os dogmáticos, os ignorantes e os mal-educados”. Quem são os obstinados que me
visitam?
Quando
escrevi sobre os candidatos procurei ser analítico – e os tratei como candidatos
à presidência da República. Sou de um tempo em que eu me levantava quando o
professor entrava em sala. Meu pai jamais admitiu que um filho se sentasse na
mesa sem camisa. Algumas coisas, transformadas, marcaram e marcam minha conduta
– e delas não me envergonho. Sempre tratei meu pai de senhor, minha mãe de
senhora, assim como pessoas de idade. Outro dia, numa banca de jornais, uma
dama de uns vinte, vinte e poucos anos, virou-se para mim – e sapecou: “Jovem,
vai levar a Piauí?” Olhei em torno: é, ela falava comigo.
Sou
contra a censura e contra a ditadura, inclusive aquelas invisíveis, opacas,
solertes. Fui um dos poucos que defendeu aqui no Facebook o escritor Paulo
Cesar de Araújo quando seu livro “Roberto Carlos, em detalhes” foi censurado, proibido,
teve os exemplares recolhidos e queimados, com o apoio dos democratas Chico
César, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Erasmo Carlos,
entre outros. Por isso, não levo a sério os manifestos que estes democratas
escrevem.
Quando
escrevi “Divas da Rádio Nacional” sofri um processo de um cavalheiro, parente
de uma das grandes cantoras brasileiras, que exigia de mim 500 mil reais e pedia
à justiça o recolhimento do meu livro das livrarias. Minha reação foi taxativa:
vou preso, mas não pago e vou vender o meu livro de bar em bar. No meu tempo de
Souza Aguiar, o professor Sylvio Guadagny censurou um artigo meu que ia ser
publicado no jornalzinho do colégio. Vivi parte da minha vida de traduções de
livrinhos de bolso, desses vendidos em banca de jornal. Usei um pseudônimo do
qual me envergonho até hoje.
Com
a anistia, abriu-se uma oportunidade às vítimas da ditadura de receber uma
indenização e/ou bolsa-ditadura. Eu me recusei a entrar com qualquer pedido
nesse sentido. Se eu sofri durante a ditadura foi porque eu lutei contra ela –
e disso não me arrependia nem me arrependo ainda hoje. Fiz o que me mandou a
minha consciência. Fui derrotado – ponto. Por que vou exigir que os vencedores me
indenizem? Eu não sei se os indenizaria se tivesse vencido.
Muita gente não me
conhece, não sabe da minha trajetória política, não sabe o que a minha geração
passou quando decidimos desafiar e enfrentar o regime militar. Ajudei a fundar
o PDT, mas o PDT de Brizola, Darcy, Doutel, Brandão Monteiro – não o PDT de
bucaneiros. Não sou melhor que ninguém. Minha vida, de forma direta ou
indireta, está nos meus livros, principalmente em “Sobrevivente” (e-book,
Amazon). Leiam e fartem-se.
As eleições são um bom
exemplo. Elas estão contaminadas pela dicotomia ou radicalização que tomou
conta da vida política brasileira. Ninguém escapa disso. Felizmente, algumas
vozes, como a do Gabeira, Gianotti, Marco Aurélio Nogueira, Antônio Risério,
perceberam que não há razão alguma de desespero – em razão da possível vitória
do candidato Bolsonaro. Segundo eles – e o Velhote do Penedo concorda com isso
– a democracia não está em risco. E não está em risco porque, hoje, a liderança
militar, como os escalões intermediários das forças armadas, não está
demonstrando nenhum interesse em partir para uma aventura, que já nos custou, a
todos, muito caro. A ditadura marcou a sociedade até hoje – e é isto o que nos
leva a temer e a esconjurar saídas ou caminhos políticos que neguem a
democracia. Claro, uma das missões do próximo governo é o de procurar
fortalecer as instituições, garantindo o equilíbrio entre os poderes. Se não
fizer isso, o país explode.
A derrota das forças de
esquerda deve ser aproveitada pela própria esquerda. Ao invés de partir para a
vingança contra o governo eleito, é necessário que a esquerda, sem abdicar do
ideal socialismo, aproveite a oportunidade para se reconstruir. Repensar sua
estratégia, livrar-se da visão sectária da vida social, compreender que o mundo
mudou, que a tecnologia está matando os empregos e que não se pode esperar
apenas do Estado o enfrentamento dessa questão. Escrevi recentemente que o
desafio brasileiro é proporcionar empregos, até 2030, a cerca de 150 milhões de
cidadãos com idade de 15 e 65 anos. Notem que estamos a apenas 12 anos de 2030.
A esquerda (se assim
podemos chamar) deve exercer a oposição ao governo que, parece, vem aí, mas sem
ódio. O mesmo cabe ao futuro governo. Deve baixar a guarda e investir tempo e
esforço no enfrentamento dos graves problemas brasileiros. O radicalismo – de que
lado seja – é o maior inimigo do povo brasileiro.
*****
1 – O meio acadêmica tem
demonstrado uma enorme incapacidade de explicar o que está ocorrendo na
política brasileira. Sugerem abstrações como “onda conservadora”,
“antipetismo”, “nazismo”. São abstrações que não explicam nada. Na verdade, o
meio acadêmico brasileiro, tal como a esquerda, precisa se repensar e abandonar
as fórmulas chapadas de explicação – que não explicam nada. Tanto na esquerda
como no meio acadêmico ouço coisas que eu ouvia nos anos 1960, quando eu
supunha que o mundo era explicável através do uso de duas ou três frases.
2 -Wagner Moura negou-se
a desempenhar no cinema o papel do juiz Moro. E explicou: “Não interpreto papel
de gente sem caráter”. Está certo, mas aceitou desempenhar o papel de Pablo
Escobar.
3
– Vou reiterar: não voto no segundo turno. Não vou lá. Não sou obrigado a
votar.
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