François
Villon é um dos grandes poetas franceses da Idade Média. Era um marginal:
ladrão, boêmio, beberrão. Por uma rivalidade amorosa, feriu mortalmente um
sacerdote e foi obrigado fugir de Paris. Escrevia em francês arcaico e cometia
erros de ortografia que eram atribuídos aos seus parcos estudos.
Quem
me apresentou ao poeta Villon foi Otto Maria Carpeaux, em artigo que escreveu
para mim, que o publiquei numa precária revistinha universitária. Um dos poemas
de Villon (“Ballade”) me parece ser uma definição bem precisa do PT. Cito, tal
como ele escreveu: “Je congnois tout, fors que moy mesmes” (“Conheço tudo,
exceto a mim próprio”).
É
verdade. O PT não se conhece, mas tem uma visão generosa de si mesmo. Brizola,
que não conhecia Villon, dizia que o PT e Lula eram arrogantes, cuja ideia que
tinham de si mesmos impediam que eles vissem corretamente a realidade.
Mas
não só sobre isso que eu quero falar. Na minha (longa) vida nunca vi tanto
democrata como vejo hoje. Folgo em saber que somos uma pátria que cativa o mais
importante bem humano: a liberdade. A turma da Globonews, por exemplo, é toda
ela democrata. Democracia é informação correta; por outro lado, informação
dúbia, truncada ou propositalmente errada não é democracia: é ditadura
midiática. Só que a turma da Globonews não acha isso. É uma turma que prefere a
dubiedade à clareza, a truncagem à correção, o erro ao acerto. Mas são todos
democratas.
O
PT é, hoje, o partido mais democrata do Brasil. Não apoia governos criminosos
como os de Maduro, do Ortega e as variadas autocracias e bárbaras ditaduras
africanas. O PT é o partido mais interessado em descobrir quem são os assassinos
do Celso Daniel, do Toninho do PT, do Roberto do PT (ex-prefeito de Ourolândia,
Bahia, que havia feito um pacto de delação sobre um desvio de 7 milhões de
reais dos cofres da Petrobrás, repassado ao PT) e quem pagou pelo atentado que
quase matou Bolsonaro (a dona da pensão e um hóspede morreram misteriosamente).
O PT nada tem a ver com as invasões de terras e com as invasões de imóveis
urbanos. O PT é, hoje, o partido mais democrata do Brasil.
Haddad
é inteligente, fala 150 línguas, foi o maior prefeito de São Paulo e, se
eleito, será o segundo melhor presidente brasileiro, abaixo é claro do seu
líder Lula, que se encontra, hoje, encarcerado por ter se apropriado de milhões
que não lhe pertenciam. Haddad investiu pesadamente em ciclovias e fez
discursos maravilhosos, originais, cheios de verve. Um homem bem-humorado. Sim,
Haddad gosta muito de rir. Um dia, o patrão dele, o preso Lula, discursou numa
cerimônia de estudantes de primeiro e segundo graus. Em meio ao discurso às
crianças, Lula disse que não lia, que não gostava de ler, que ler era chato. Os
aspones do PT, sentados ao fundo, riram muito do comentário do capo. Não é
mesmo muito divertido um presidente que não lê – e conta isso como uma vantagem?
Os aspones riram, mas quem mais riu, claro, foi o Haddad, na época ministro da
educação. Ler pra quê, deve ter pensado o homem responsável na ocasião pelo
ensino? Melhor que ler autores chatos como Guimarães Rosa, Drummond, Machado,
que nada têm a ensinar, é ouvir as sábias prédicas da Gleisi, da Dilma, do
Lindenberg. Haddad é um democrata com senso de humor, mas como disse Villon,
conhece tudo, exceto a si próprio.
Que bom que você voltou a escrever. Estava com saudade dos seus textos e preocupado com seu sumiço.
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