domingo, 23 de dezembro de 2018

O futuro de PT e a oposição brasileira


Não creio que o PT, como partido, tenha futuro: ou ele definha de vez, como uma batata podre, ou se transforma num partidozinho suburbano. O destino do PT, a meu ver, é ficar repetindo o “Lula livre”, grito monocórdio que não tem significado político nenhum – e que um dia será esquecido por sua inutilidade. Amigos meus, de esquerda, acham que Lula está no lugar certo, mas isto eles não dizem de público.
Lula é um criminoso e, por isso, foi condenado. Ficará na cadeia pelo resto dos seus dias. Um epílogo amargo de um sujeito que tinha tudo para ser um líder cultuado, um líder da dimensão de Mandela, Lumumba e Ben Bella, que lutaram pela liberdade e democracia em seus países. Lula, ao contrário dos três líderes africanos citados, deixou-se tragar pelo que há de pior na vida pública. Diante de tantos grandes exemplos políticos, Lula preferiu aproximar-se de Maduro, Obiang e Gaddafi. Tornou-se um deles.
Mandela, atuando como estadista, saiu da cadeia com a missão de conciliar o país, reduzindo a quase nada o grau de antagonismo entre grupos étnicos e classes na África do Sul. Sepultou de vez o apartheid. Lula, como chefe de uma organização criminosa, tornou-se um dos homens mais ricos do país, mas na cadeia não terá como usufruir a grana que tungou em conluio com outros políticos, grandes empreiteiras e ditadores africanos e sul-americanos.
Na época em que o Velhote era um estudante idealista, que sonhava em derrubar a ditadura cruel que nos oprimia, o discurso anticorrupção era vista com extremo desprezo. O Velhote, repetindo o discurso de esquerda da época, considerava que a corrupção era inerente ao modo de produção capitalista, logo lutar contra a corrupção era uma estratégia diversionista. O fundamental, segundo nossa vesguice, era lutar contra o capitalismo, o mal de todos os males. Com o socialismo, a corrupção desapareceria. Era o que nós pensávamos na época. Hoje, sabemos que a corrupção na URSS e nos países socialistas do Leste europeu – era superior à corrupção nos países capitalistas. Pensávamos que lutar e denunciar a corrupção era coisa de “pequeno burguês alienado”. Hoje, o Velhote do Penedo considera a luta contra a corrupção uma prática política necessária e correta, um esforço constante de exercício ético.
O combate à corrupção, et pour cause, não faz mais parte do discurso petista. No poder, o PT uniu-se ao que há de pior na política brasileira, meteu-se em conchavos com o empresariado, não fez reforma agrária, não fez reforma previdenciária, não fez reforma política – ou seja, jogou no lixo todas as suas propostas históricas.
Quando vejo a Gleisi, o Lindenberg, a Maria do Rosário, o Suplicy, a Benedita repetindo, aos berros, o “Lula livre” compreendo as causas profundas do nosso atraso político. Os citados – e não só os citados, mas acadêmicos, jornalistas, artistas – assumiram o monopólio do discurso de esquerda, sem perceber, como disse Anthony Giddens, que não há, hoje, como traçar linhas divisórias fáceis entre o marxismo e a teoria social burguesa. “Sejam quais forem as diferenças que possam existir, um e outra partilham certas deficiências comuns derivadas do contexto de sua formação; acho que, hoje, ninguém pode se manter fiel ao espírito de Marx ficando preso à letra das obras de Marx”.
Esta, para mim, é uma questão vital: não é possível ler as obras de Marx e buscar, diretamente nelas, explicações para o que sucede nos dias atuais. Quando Karl Marx e F. Engels escreveram, no Manifesto, que “a história de todas as sociedades existentes até hoje é a história das lutas de classe” estavam se referindo um conceito genérico, universal, nem sempre aplicável em todas as sociedades, em todos os tempos. A sociedade capitalista, hoje, é um emaranhado, uma complexidade de classes sociais, estamentos, grupos sociais.
No Manifesto, Marx e Engels afirmaram: “homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em conflito”. Como se percebe, o conceito de luta de classes de Marx e Engels era, antes de tudo, um paradigma, mediante o qual, falando de coisas evidentes, eles utilizavam como referência à cadeia de relações de dominação e oposição entre classes sociais e estamentos. É preciso destacar que “escravos” não formavam sociologicamente uma classe social. Mestre de corporação, segundo esclareceu o próprio F. Engels em 1888, era um membro da guilda, o chefe interno, o gerente, uma espécie de mestre de obra - e não seu dirigente.
Escrevi o presente texto com um objetivo específico. Precisamos construir um discurso de oposição ao governo que vem aí. Os partidos que se apresentam como de oposição têm uma visão tacanha, reducionista e, sobretudo, desfocada da realidade. Não se pode contar com eles.
Outro dia, num debate, um grupo de moços e moças gritava loas ao PCdoB e “aos jovens do Araguaia”. Quando a história da guerrilha do Araguaia for escrita, todos compreenderão que o movimento, conforme mostra Hugo Studart em “A lei da selva” e, principalmente, em “Borboletas e lobisomens”, foi uma soma de tragédias, heroísmos, equívocos e covardias. Jovens, cuja idade média era de, vinte e poucos anos, abandonaram suas famílias e cidades – e embrenharam-se nas matas do Araguaia (onde nunca tinham ido antes) na doce ilusão de que iriam sublevar o povo da região, enfrentar e derrotar tropas militares equipadas e treinadas, tal qual fizera o companheiro Mao durante a Grande Marcha, na China. Lideranças do PCdoB, com exceção de Maurício Grabois (cego e doente, morto em combate), que estavam por lá deram no pé quando os primeiros tiros foram dados. Nos confortos das cidades, alguns escreveram sobre a guerrilha, pondo nas alturas o partido. Como dizia meu avô, “pimenta no rabicó dos outros é doce de mangaba”.
O Brasil – este país enlouquecido - precisa construir uma oposição séria, consistente. O “Lula livre” é uma piada e, além disso, evidencia a carência política e ideológico dos partidos e políticos de oposição. Imaginar que Gleisi é a nossa Dolores Ibárruri é achincalhar a consciência brasileira. A oposição deve ser montada através da ação espontânea de gente interessada. Não sei como se dará isto, mas se ficarmos na comodidade aguardando algo de útil do PT, do PCdoB, do Psol e do PDT, estamos fritos.
Às vezes chego a pensar que este é o nosso destino.

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Em tempo: a todos que leem os meus textos, desejo um feliz Natal e um próspero Ano Novo. Sobretudo, espero que em 2019, o mundo e o Brasil comecem a entrar nos eixos. Até lá.

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