A trágica realidade
As chuvas que desabaram sobre a região
de Xerém, município de Duque de Caxias, só não foram piores que os aguaceiros que
cairam, em 2011, sobre a região serrana do Rio de Janeiro. Nas serras
fluminenses, mais de mil pessoas perderam a vida. Em Xerém, pelo que se sabe,
morreram apenas três pessoas. Contudo, tanto num caso como no outro, casas,
pontes, ruas e estradas foram destruídas, um número imenso de famílias foram e
estão desabrigadas, o desespero tornou-se sentimento comum a centenas de
famílias, serviços públicos entraram em colapso, afetando a vida de um número
incalculável de pessoas. Teme-se que novas chuvas piorem esse quadro de horrores.
Em Xerém, a lama e a água misturaram-se
ao lixo que, há seis meses, não era recolhido pela prefeitura, algo que deveria
levar Sua Excelência à cadeia, em rito sumári. A verdade é que a destruição
causada pelas enxurradas e a perplexidade das autoridades revelam algo
profundo: primeiro, a distância existente entre as elites do poder e a
população; segundo, o desconhecimento revelado pelas autoridades sobre os
problemas que devem realmente enfrentar; terceiro, o pasmo e a indefinição das
autoridades quanto às soluções que devem levar a diante. Nós, cidadãos comuns,
vivemos a esmo, nas mãos de criminosos que se arvoram ao papel de
“representantes do povo”.
Foi patético assistir o sobrevôo de
autoridades do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e do
governador do Rio, Sérgio Cabral, sobre o distrito de Xerém, ao qual se
seguiram as promessas de sempre. Os repórteres presentes apenas registraram o
que as autoridades diziam, mas foram incapazes de pedir esclarecimentos sobre
os recursos não gastos (embora programados) nas regiões afetadas pelas chuvas
de 2011 e 2012, pelas providências não tomadas (mas anunciadas, inclusive na
presença da “tia” Dilma, que dessa vez não foi inspecionar a catástrofe,
preferindo ficar gozando férias na Bahia) e pelas promessas que as mesmas
autoridades fizeram nos dois anos passados – e que, agora, diante das TVs foram
repetidas com a desfaçatez e a cara de pau de sempre. Todos sabemos que nada
será feito, até que, ano que vem, novas enxurradas aconteçam.
Em abril de 2010, em face dos
deslizamentos ocorridos no estado, principalmente em Angra dos Reis e na
favela-lixão de Niterói, que mataram 219 pessoas, feriram 161, desabrigaram 12
mil pessoas, o governador Sérgio Cabral prometeu remover cariocas e fluminenses
das áreas de risco. Informou, ainda, que em outras áreas faria obras de
contenção. Não fez nem uma nem outra coisa. Preferiu culpar antigos governadores
pelas desditas atuais do estado (o que é uma maneira de tirar o corpo fora) e
elogiar o então presidente Lula, que, por sinal, não liberou um tostão sequer
dos recursos que seriam destinadas à remoção, coisa que Cabral não informou aos
seus eleitores. Em janeiro de 2011, por ocasião da tragédia da região serrana,
o governador fluminense repetiu as velhas promessas de sempre, mas, de prático,
nada fez.
Não se trata apenas de culpar as
autoridades pelos acontecimentos da região serrana e de Xerém, mas de lastimar
que nos foros burocráticos do estado ninguém tenha alertado (ou soubesse ou
previsse) que as chuvas teriam a força que tiveram. É patético se falar em
duzentos ou trezentos milhões de reais para o programa de auxílio aos atingidos
pelas enchentes e pelos deslizamentos, enquanto as obras do Maracanã, segundo o
jornal O Globo, vão custar cinco ou seis vezes isso, ou seja, algo em torno de
1 bilhão e 1 bilhão e duzentos milhões.
***
PICLES
1 – O absurdo dos gastos com os
megaespetáculos esportivos (Copa das Confederações e Copa do Mundo) não é
característica única do Rio de Janeiro. Em Brasília, onde serviços de saúde, o
transporte coletivo e o sistema de ensino estão sucateados, vão ser gastos mais
de 1 bilhão de reais na construção de um estádio de futebol. Um estádio que vai
sediar apenas uma partida na Copa das Confederações e três na Copa do Mundo. E
depois? Esse estádio será o palco do vibrante campeonato de futebol do Distrito
Federal, cuja média de público nos jogos nos últimos três anos não atingiu a 3
mil pagantes. O novo estádio tem capacidade para 74 mil pagantes.
Como o Velhote do Penedo nada pode fazer
para impedir essa loucura, faço o meu protesto individual e assino abaixo:
jamais irei pôr os meus honrados pés nesse Elefante Branco!
2 – Outro dia, no Aeroporto de Brasília,
após uma grande confusão, do qual resultou atrasos e cancelamentos de vôo, um
cidadão estressado berrou: “Quem, aqui presente, for votar no Lula e na Dilma é
um grandíssimo filho da puta!” Foi aplaudido.