Tiros, assaltos e depressão
Essa
semana, no cemitério do Caju e arredores, tivemos mais um espetáculo de tiros,
protestos e ódios. Uma criança, de onze anos, tinha sido enterrada – vítima de
uma bala possivelmente disparada por uma arma de um PM. Balas perdidas, chacinas,
arrastões, linchamentos tornaram-se fatos corriqueiros nas cidades brasileiras.
Em Carapicuíba, São Paulo, quatro jovens foram executados: um dos PMs
envolvidos já foi preso. No Embu, também em São Paulo, 19 jovens foram chacinados.
Praias cariocas são cenários de arrastões – e da ação de justiceiros, que
espancam e tentam assassinar jovens sejam eles assaltantes ou suspeitos, sob a complacência da polícia.
Outro
dia, a deputada Jandira Feghalli, do PCdoB, após evocar mentalmente o seu líder
político (e espiritual), o falecido Henver Hoxha, ex-ditador albanês, dileto
discípulo de Stalin, informou no facebook que os governos do PT tinham acabado
com a miséria no Brasil. Ontem, dados oficiais nos informaram que há no Brasil dois
milhões de desempregados, cerca de 9% da força de trabalho do país. A inflação
sobe a cada mês, os juros atingem alturas estratosféricas. As famílias estão endividadas, em razão de uma política irresponsável que estimulou o consumo desenfreado. A inadimplência sobe a cada mês. A chamada reforma administrativa
mostra-se uma farsa, cujo objetivo é distribuir cargos ao PMDB em troca de
apoio nas votações no Congresso. Vi, hoje, uma entrevista de um jovem, que
confessou viver de assaltos, que evidenciou a nossa miséria como nação e o
nosso fracasso como civilização.
Vivemos
num país em que as autoridades perderam a compostura, se é que, um dia, a
tiveram. Outro dia, um estudo oficial com 2,5 milhões de estudantes mostrou
números acachapantes. Um em cada cinco alunos (22,2%) do 3º ano não entende o
que lê. Outros 34% encontram algum sentido, desde que a informação mais
importante esteja na primeira linha do texto. Na escrita, o cenário se repete.
Em matemática, 24,3% não sabe somar com três algarismos e não sabe subtrair com
dois. Diante disso, o que disse o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro? Disse
apenas: “É assustador”. Quando se
esperava do responsável pela educação brasileira o anúncio de medidas urgentes
para a sua pasta, ele apenas se diz “assustado”, o que não significa nada.
Enquanto
“tia” Dilma negocia o ministério da Saúde com o PMDB, o ministro da Educação
assusta-se com os números que mostram o que qualquer ser pensante no Brasil
sabe há muito tempo: a educação brasileira é um fracasso.
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Na
mesma semana em que o Brasil perdeu o historiador Joel Rufino dos Santos, morreu
no Rio de Janeiro um baita escritor: Esdras do Nascimento. Leitor de Esdras
desde 1963, quando ele publicou pela Civilização Brasileira o romance “Solidão
em família”, confesso que está difícil superar a depressão que me consome.