Lembro, sigo lembrando:
Ainda no primeiro governo
Lula, uma querida amiga, petista histórica, conversou comigo sobre a sua
desilusão partidária. “O PT vai se autodevorar, vai se autodestruir”, disse-me
ela, com amargura. Em termos emocionais, eu pouco podia fazer por ela: nunca
tive ilusões em relação ao PT e, principalmente, em relação ao Lula, a quem sempre
considerei, como político e pessoa, vulgar e enganador.
Eu fui, durante anos,
filiado ao PDT, convicto de que poderíamos retomar o discurso trabalhista e os
planos reformistas de Jango (com as devidas adaptações), tendo como mira, no
longo prazo, a formulação de um projeto de cunho democrático e socialista para
o Brasil. Hoje considero que PT e PDT se equivalem e se merecem. São duas
porcarias.
Esta querida amiga, que eu
conhecera na valorosa Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), tinha, porém, uma
esperança: se o PT se desviara do “caminho justo” (expressão que usávamos muito
no nosso tempo de estudante), a saída seria através dos movimentos sociais,
que, na sua opinião, não se deixariam encantar pelo poder – “e reagiriam”,
frisou. Ouvi seus argumentos em silêncio, mas, dentro de mim, bailavam dois sentimentos:
o de crença na autonomia política dos movimentos sociais e o de descrença na suposta
capacidade de os movimentos sociais não sucumbirem ao poder – e, sobretudo, ao
poder do dinheiro. Poder e dinheiro são um coquetel mortal.
A verdade é que o governo
petista, mediante copiosas verbas, cooptou vergonhosamente os movimentos
sociais. A própria militância do PT, segundo disse o próprio Lula recentemente,
só se permite ir para as ruas mediante pagamento. Às vezes me pego pensando: de
que vivem as lideranças dos movimentos sociais? Onde trabalham? Quem paga os
seus deslocamentos pelo país? Alguém sabe? Outro dia, no Aeroporto, vi um dos
tais líderes dos movimentos sociais, um dos mais estridentes. Parecia um lorde,
na roupa e na pose.
O PT não só desmoralizou a
esquerda, como vilipendiou os movimentos sociais. São essas, mais a corrupção
sistêmica e a crise econômica, as heranças malditas que os governos petistas
legaram ao país, ao povo brasileiro. Depois, reclamam do avanço da direita no
Brasil.
Em tempo (1):
O governador Fernando Pimentel
(PT), de Minas Gerais, nomeou a esposa, Carolina, secretária de estado do
Trabalho e Desenvolvimento Social. Antigamente, isto se chamava nepotismo, mas
o objetivo da nomeação vai além: garantir foro privilegiado à Carolina, que,
com o maridão, é alvo de investigação da Polícia Federal, na chamada Operação
Acrônimo, que apura esquema de lavagem de dinheiro e irregularidades em
campanha eleitoral.
Em tempo (2):
Vi uma triste reportagem
sobre o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Quem é mesmo o ministro
da Educação?
Em tempo (3):
E a ciclovia do Paes, heim?
Se ela tem que ter um nome, que tal cancelar a homenagem ao Tim Maia e
batizá-la com o nome de: “Ciclovia Pedro Paulo, o Espancador”.
Em tempo (4):
Desculpem, mas vou tratar de
um assunto pessoal: três pessoas diferentes informaram que, a partir de
outubro, vai faltar grana para pagar a aposentadoria do Velhote do Penedo.
Depois não culpem o Temer.
Em tempo (5):
Cheguei à conclusão que sou
um idiota.
Lutei contra a ditadura, fui
derrotado. Não recorri à Comissão de Anistia, reivindicando compensação
financeira, nem Aposentadoria de Anistiado, por ter sido impedido de trabalhar
durante anos, com duas filhas menores. Fui socorrido por amigos. Não recorri à
Comissão de Anistia, nem vou nunca recorrer. Por uma questão de princípio: eu
lutei e fui derrotado.
Agora, corre no Facebook um
extrato de pagamento referente à aposentadoria de anistiado do Lula. E lá está:
Lula recebe, sem descontos (!), a bagatela de R$ 8.352,45.
Notem: sem descontos, embora
o pagamento seja feito pela Previdência. Eu, por lei levada ao Congresso e
sancionada pelo presidente Lula, pago uma cota à Previdência, apesar de estar
aposentado – e de ter me aposentado antes da aprovação desta lei. Vejam: Lula
fez uma mudança na lei de aposentadoria que o próprio FHC não fez.
Lula aposentou-se, nos
termos aqui comentados, com 43 anos de idade.
Em tempo (6):
Lembrei-me hoje de uma
grande amiga, fundadora do PT, já falecida: Isabel Picaluga. Certa vez, eu já
morava em Brasília, fiquei na casa dela, em Jacarepaguá.
Uma noite, ela recebeu em
casa um grupo de militantes do PT – e permaneceu a noite toda preparando
cartazes, volantes e muitos outros materiais que seriam usados pelo partido.
Lembro-me dela, muito sorridente, dizendo que o PT se construía através da sua
militância.
Como disse acima, minha
amiga já se foi, mas imagino a tristeza que ela teria, hoje, ao ver muitos
dirigentes do PT ricos, gordos e debochados. Imagino o que ela pensaria ao ver
o Lula transformado num dos homens mais ricos desse país, além dos que já estão
em cana, como Dirceu. Tenho muitas saudades da Isabel.